O Superdenso

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 06 de setembro de 2007

Como todo bom nerd que cresceu lendo gibis e vendo desenhos animados, eu também queria ter um superpoder pra chamar de meu.

Quando criança queria saber voar. Me imaginava cruzando os céus, com a capa vermelha balançando ao vento. Seria um verdadeiro combatente do mal. Um vigilante justiceiro que salvaria os fracos e oprimidos.

Quando cheguei na pré-adolescência os hormônios começaram a falar mais alto. De repente tudo que interessava era ver mulher pelada e me entregar a prática solitária do onanismo. Nesse contexto, o único superpoder relevante era o da invisibilidade. Queria poder entrar no vestiário feminino do clube e ver as mulheres trocando de roupa, tomando banho, passando creme no corpo…

A adolescência segue seu ritmo natural e chego aos 15 anos. Tudo que quero agora é um fator de cura e meia dúzia de garras pra sair partindo a cara dos babacas que me enchiam o saco no colégio.

Chega a idade adulta, e com ela uma nova necessidade surge pra mim: queria saber o que as pessoas estão pensando. Como telepata poderia ler a mente de todo mundo, descobrir como fazer pra conseguir aquele emprego, ou que segredo oculto eu poderia ameaçar revelar pra tirar aquela criatura desagradável do meu pé.

Infelizmente nunca fui abençoado com a capacidade de voar, nunca consegui ficar invisível, meu fator de cura só funciona em cortes superficiais e sou incapaz de ler a mente de qualquer pessoa, animal ou alien. O único poder que sempre tive foi a superdensidade.

Mas nada no nível Blob da coisa. Admito que não sou uma pessoa fácil de ser derrubada, mas aplicando-se a força certa, eu me esborracho no chão como qualquer outro. A minha densidade é meramente interna.

Para os magros, tirar um Raio X é algo simples. Você chega lá, pára na frente da máquina, ouve aquela barulhada toda, e pronto, acabou. Para um gordo a coisa é diferente. É muito raro conseguir acertar a configuração da aparelhagem de primeira. É comum tirar duas ou três chapas até chegar ao nível ideal de clareza.

Quando fui tirar meu RX de tórax, a história não foi diferente. O técnico só acertou na sexta e última tentativa, com a máquina já em sua capacidade máxima de resolução. Se não conseguisse daquela vez, teria que procurar uma outra clínica especializada em pacientes gordos (odeio a palavra obeso)… ou então ir no zoológico usar o aparelho reservado pros elefantes e hipopótamos.

Segundo o atendente da clínica, a minha densidade corpórea era muito… densa. Por isso a dificuldade em ter uma imagem clara das minhas entranhas. Foi então que percebi, depois de 31 anos de idade finalmente consegui superpoderes. Meu nome é Eduardo Sales Filho, mas podem me chamar de denso, Superdenso!

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