Rato de laboratório

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 19 de novembro de 2007

Todo gordo odeia fazer exercícios.
Não digo nem jogar uma bolinha com os amigos nos finais de semana ou nadar um pouco quando vai a praia. Me refiro a malhação mesmo. Ir pra academia, usar aqueles aparelhos de ginástica que mais parecem máquinas de tortura, ouvir aquele papinho chato dos malhadores habituais enquanto tomam sucos e comem lanches saudáveis usando roupas com excesso de cores. Isso é uma verdadeira visão do inferno.

Ao longo da minha vida sempre fugi da rotina de ginástica. Com exceção de um breve período que fiz caratê, corri de exercícios como o diabo corre da cruz. Criei várias estratégias para escapar das aulas de educação física do colégio. Certa vez fiz um curso de natação em que basicamente ficava boiando na piscina durante a aula inteira. Em outra época passei dois anos frequentando uma academia uma vez por mês só pra pegar um atestado de frequência e entregar pra coordenadora do colégio.

Meu pai, como todo gordo impressionável pelas propagandas na TV, já comprou vários aparelhos de ginástica ao longo dos anos. Duvido muito que qualquer um deles tenha sido usado mais de dez vezes antes de virarem ferro-velho. Sei que eu nunca os usei.

Com todo esse meu histórico, sabia de antemão que o teste de esforço seria o pior dos exames pra mim. Já começou com a própria complicação em marcar uma data. Por alguma razão absurda parece que todo mundo tá fazendo testes ergomêtricos hoje em dia. Só consegui marcar o meu exame com quase dois meses de antecedência.

Na véspera do exame tive problemas com meu carro, então já fui pra clínica preocupado com a grana que iria gastar no conserto. Enquanto aguardava a minha vez, fiquei observando as pessoas na sala de espera e imaginando quantos minutos cada um ali conseguiria suportar na esteira de corrida. O jogo de adivinhação não durou muito, pois logo chegou a minha vez.

Entrei na salinha minúscula e a enfermeira me pediu pra tirar a camisa. Quando viu a quantidade absurda de pêlos que tenho no peito, ela respirou fundo e começou a raspar alguns pontos com uma gilette comum para colocar os eletrodos.

Pouco depois a médica entrou na sala e a minha sessão “rato de laboratório” começou. Com fios ligados em meu peito, braços e abdômen, eu me sentia um verdadeiro hamster. Depois de quase botar os bofes pra fora algumas vezes, completei o tempo mínimo para o exame e veio o resultado final:

Teste isotônico, contínuo em esteira ergométrica.
Exame realizado pelo protocolo de Bruce
(Banner!?).
Motivo de interrupção do esforço: fadiga muscular
Indicação: avaliação funcional
Durante o exame a pressão arterial chegou no máximo a 16 por 8 e o ritmo cardíaco a 173 bpm
Déficit aeróbico funcional (FAI): – 7,2
Consumo calórico total: 8,5 Kcal

Não entendi metade do que tá escito aí em cima, mas agora sei que sou um gordo funcional. Então três vivas para a funcionalidade!
Viva! Viva! Viva!

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