Roupas de carnaval

Maira Moraes
@maira_moraes

Publicado em 23 de fevereiro de 2009

Roupas no CarnavalVestir-se para o Carnaval da Bahia já foi mais fácil para gordinhos e gordinhas. Na época das mortalhas, aqueles camisolões, era mais tranquilo caber um peso-pesado dentro da roupa fornecida pelo bloco.

Hoje, com os abadás, a coisa muda de figura: ficamos apertados em uma área de 70 cm por 90 cm.

Isso é possível?

Para alguns gordinhos, não, e isso faz com que eles se sintam discriminados. Como não podem entrar sem estar vestidos com a camiseta da festa ou bloco, são obrigados a ir com uma roupa comum e ficar com a peça pendurada no pescoço ou na mão, “passando atestado de que não conseguiram caber lá dentro”.

A publicitária Ana Paula Gonçalves (35 anos) e Janaína Paim Nogueira (32 anos), que também trabalha na área de marketing, dão o seu veredito:

A mortalha servia em nós gordinhos. Agora não temos como usar a roupa do bloco. O tamanho G é igual ao P! Ou a gente aceita ficar diferente de todo mundo, ou não vai para a festa. Eles simplesmente não pensam nos gordinhos!

A jornalista Francis de Oliveira (29 anos), lembra de outro grupo que também não cabe nos abadás: os turistas. “Eles tem biotipo maior do que o nosso e acabam ficando apertados também”, atesta.

Nós do Contrapeso também sofremos com essa dificuldade de caber nos abadás e, assim como muitos gordinhos, baianos e turistas, recorremos à arte da “customização”. Ou seja, pegamos as camisas, levamos para a costureira e, depois de um cuidadoso enxerto de pano, fazemos com que ele passe a servir.

É nesse momento que entra a criatividade para incrementar a peça”, afirma Francis, transformando a necessidade numa oportunidade de diferenciar-se dos outros foliões. “Só porque somos gordos, não quer dizer que a gente não tenha estilo!”, comenta.

É isso aí pessoal. O importante é ir para a rua confortável e se sentindo bem vestido. E a melhor parte é que os magrinhos ainda vão ficar com inveja do seu modelito.

Um pouquinho da história do Carnaval na Bahia:

No final dos anos 60, a Avenida Sete fervia ao som das batucadas e dos primeiros trios elétricos. A contra-cultura dava o tom da festa, e entre pierrôs, palhaços e mascarados, surgiam as “mortalhas“, lançando a moda de fantasiar-se de morto e contrastando a alegria e a liberdade da festa com a repressão da ditadura. Elas eram, geralmente, em preto, vermelho ou branco, traziam cruzes no peito e costas, além de um capuz, que logo foi abolido devido à proibição de se brincar mascarado. Até o início dos anos 70, a mortalha agradava os foliões de rua, mas ainda era comum ver gente fantasiada nos blocos. Só em meados dessa década é que alguns deles passaram a utilizá-la. Outros, optaram por uma espécie de macacão (parecido com os de posto de gasolina). Mas essa resistência foi logo quebrada. Junto ao trio elétrico, a mortalha tornou-se um dos símbolos do Carnaval baiano dos anos 70 e 80. Com o passar do tempo, essas vestimentas ganharam vida própria e, para combinar com a conquista sexual, todo aquele pano é dobrado, cortado, enrolado… Estava aberta a porta para uma espécie de “evolução”: o abadá. A palavra de origem africana (do yorubá) foi trazida pelos negros para a Bahia, sendo também usada para designar a indumentária dos capoeiristas. Foi no Carnaval de 1993 que Bloco Eva, junto com o designer Pedrinho da Rocha e o músico Durval Lélys (Asa de Águia) lançaram o “substituto” para as antigas mortalhas. Nascido como uma homenagem ao Mestre Sena, antigo capoeirista e amigo, o designer batizou a nova fantasia de “abadá“. A idéia pegou e, hoje, tem bloco que usa três abadás, uma para cada dia de Carnaval. Alguns tentam inovar e ainda tematizam as roupas. Isso permite que o folião compre um dia de cada bloco.

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