Publicado em 22 de abril de 2009
Eu sou preguiçoso, estúpido, bronco, pesado e desajeitado. Na verdade, você que está lendo esse texto também é. Afinal, somos gordos (se você é magro, problema seu). Não… Definitivamente não estou xingando meus colegas de peso. A questão é bem simples: a palavra “gordo” vem do latim gurdus, que significa todas essas coisas e um pouco mais. Ou seja, os gordos são zoados até na etimologia.
Não é tão estranho que essas palavras tenham dado origem ao termo “gordo”, já que a percepção geral sobre a gente tem tudo a ver com esses adjetivos não muito simpáticos. E não adianta surgir vários exemplos de pessoas rechonchudas que fujam desse estereótipo: gordo é preguiçoso, até porquê, se não o fosse, não seria gordo. Simples, não?
Além da etimologia, outro dos maiores problemas para defender os gordos é o grande número de males associados à obesidade, como doenças cardíacas e diabetes. Mesmo não sendo exclusividade dos horizontalmente avantajados, nós que ganhamos a fama. Qual gordo já não disse que acabou de fazer um exame de saúde e está bastante saudável e viu imediatamente a cara de descrédito de todo mundo?
Não esqueçamos ainda que sacanear um gordo é muito divertido. Se um fumante inveterado tenta parar de fumar, ninguém vai achar engraçado oferecer um cigarro ao pobre coitado. Se um alcoólatra resolve parar de beber, nenhum bom cristão balançará um copo de cachaça na sua frente. Mas se um gordo está de dieta, uma das coisas mais divertidas do mundo é balançar um pão de queijo quentinho sob seu nariz.
Um passeio na livraria também atrapalha nossa autoestima. Encontramos facilmente livros como “Só é gordo quem quer”, “Pense magro” ou “Gordo nunca mais”, mas nenhum exemplar de “Deixe de ser um palito em dois palitos” ou “Quem gosta de magrela é ciclista”. Nem livros de culinária defendem os gordos! Afinal, que defesa existe em trazer páginas e mais páginas de receitas gostosas e altamente calóricas que só servirão para o gordo ampliar sua circunferência?
Apesar de tudo ir contra mim, mantenho minha filosofia de ser um gordo de raiz. Não penso em fazer gastroplastia ou dietas mirabolantes. Tenho noção de que não devo exagerar muito na barriga porque posso ter problemas de saúde sérios. Também é lógico que quero subir uma escada de dez degraus sem ficar esbaforido (embora prefira que haja sempre um elevador por perto). Não quero ser uma bola que anda, mas quero ter o direito de manter minha pancinha no mínimo aceitável.
Só é gordo quem quer. E eu quero. E acredito que todos temos o direito de manter nossa barriguinha, desde que não afete nossa saúde. Afinal, ser magro não é, nem de longe, sinônimo de ser saudável e é sobre isso tudo que pretendo tratar semanalmente nessa coluna, sempre de forma não muito séria e vez por outra beirando o nonsense.
Portanto, precisamos de uma campanha para desmistificar a imagem de preguiçosos que nós temos! Vamos libertar os gordos para serem… bem… gordos! E o primeiro que vier com a ideia de usar o slogan “Free Willy” leva porrada!
Quase morri de rir com seu texto…só me controlei pq tava almoçando diante do computador – típico de gordo, diriam os preconceituosos – e poderia engasgar..hahaha.. Deixe de ser um paçito em dois palitos é ótimoooooo!!!!
"Só é gordo quem quer".Quantas vezes já não disseram isso para mim…Olha que controlo minha alimentação desde a minha infância (afinal, para a cara de "pena" dos não-gordos, tenho uma predisposição genética).
É uma verdade. Devemos nos aceitar como somos…Li um texto que tratava até dos ectomorfos, mesomorfos e endomorfos.
Continue com seu blog! Muito bom.
Abraço.
[…] Crônica originalmente publicada em 22 de abril de 2009 no Papo de Gordo. […]