Publicado em 25 de abril de 2009
Ser médico em uma cidade do interior da Bahia é uma experiência única. Você se depara quase que diariamente com situações inusitadas, curiosas e muitas vezes cômicas. Confesso que é difícil segurar o riso em algumas delas, mas a profissão exige e o jeito é rir depois ao contar suas aventuras para amigos e familiares. Ou, como nesse caso, descrevê-las na internet para o deleite dos nossos queridos visitantes.
As dificuldades encontradas num ambiente rural são muitas, começando pelo dialeto local. O médico tem que ser bilíngue para poder compreender os sintomas relatados pelos pacientes. Por exemplo, se uma pessoa chega até você informando que está há dois dias com um aguadio horroroso, que a natureza não pede nada e o tempo todo só faz remessar, é preciso entender que ela está com diarreia, sem se alimentar e vomitando bastante.
Outros termos como quipá (escabiose ou sarna), tiriça (hepatite), cistosa (esquistossomose) e piriri (diarreia, que por sinal é a palavra que mais possui sinônimos) têm que fazer parte do vocabulário do médico interiorano, que ainda precisa de muita paciência para entender e ser entendido. Caso contrário pode acontecer como uma vez em que um amigo meu prescreveu Voltarem 50 a um paciente, que retornou à tarde informando que no papel estava escrito que ele deveria voltar em 5h. Existem também alguns relatos verídicos de pessoas que deglutiram supositórios e óvulos vaginais, pois não entenderam muito bem a orientação médica a respeito.
Os costumes locais também atrapalham muito o trabalho do médico, pois é difícil convencer os clientes que menstruação não é doença e que se pode chupar abacaxi e outras frutas cítricas nesse período; comer doce e beber água em seguida não causa diabete; sentar na cadeira onde uma mulher menstruada estava sentada não passa cólica; e verme não sabe em que quadra está a lua, então não basta tomar vermífugo só na lua cheia.
Outra característica do povo interiorano é a incrível capacidade de criar nomes originais. A criatividade deles é infinita. Eu faço exame de ultrassonografia e, muitas vezes, ao identificar o sexo da criança, costumo perguntar aos pais se já escolheram o nome para poder digitá-lo ao lado da genitália e facilitar a compreensão da imagem. Às vezes o nome da criança é tão complicado que eu prefiro escrever apenas “menino” ou “menina” para não me comprometer.
Um caso engraçado aconteceu uma vez em um posto de saúde, quando um pediatra se deparou com um Valdisnei ao olhar o nome do seu próximo paciente. Pra quem já está acostumado com Ariosvaldo, Jucilândia e Onofraldina, um mero Valdisnei é bobagem, mesmo ele sendo adornado com um ”W” no início e um “Y” no final. Afinal, não basta o nome ser difícil: tem que ter letra diferente e, se possível, dobrada.
Ao chamar por Valdisnei várias vezes e não obter resposta o colega já achava que a criança havia faltado ao atendimento. Foi quando fitou uma senhora sacudindo seu filho como se fosse uma coqueteleira. O médico educadamente perguntou: “Valdisnei?”. E a senhora respondeu, meio irritada: “O nome do meu filho é Waldisnney (Walt Disney)”. Pronúncia é tudo!
Achei legal este post!Dei risadas lembrando de alguns alunos que tive com nomes bem engraçados… e papos com os pais em reuniões.Relembrei muitas coisas. Parabéns Dr.tapioca
kkkk… eta povo de interior e suas histórias,é só pra dar risada mesmo… ainda bem que li esse post, tava precisando dar uma animado nessa segundona..
Abraço a todos… e Boa semana.
Nossa senhora….
Começar a semana rindo é sempre muito bom, Waldisnney foi dimais.
As histórias do povo do interior são realmente muito engraçadas. Fiquem ligados para novas e hilariantes aventuras, garanto que todas são fatos reais.
Querido Dr Tapioca, vejo por essas suas maltracadas linhas que vossa senhoria possui um dominio unico do vernaculo. Aprecio muito homens com esse tipo de bagagem cultural, pois sempre temos algo a aprender ou a ensinar, de forma que se quiseres descobrir o como e grande o meu carinho por voce, não deixe de entrar em contato atraves do e-mail assima epigrafado. Um beijo no coracao.
Muito boa coluna, aguardando novas atualizações..
Caro amigo H Romeu Pinto, depois de ler seu comentário, só uma coisa veio à mente: LÁ ELE!!!
Vini! Até você por aqui? Foi contaminado pelas peripécias do Dudu, né? Muito bem, muito bem… Eu fugi, tive coragem não §:-D
Gostei dos artigos e imagino que ainda existam várias e várias histórias a serem contadas, afinal, é no "interiorzão" que o bicho pega.
Até achei bonitinho o nome Valdisnei… bem meigo!
Beijo e cuidado com esses fãs fervorosos…
Gostei muito!!!!Esta coluna vai dar o que falar.
Meu nome também não é muito comum. Nós que moramos no interior muitas vezes somos registrados com nomes tirados da bíblia por um membro ilustre da família ^^
Boa coluna Dr. Tapióca!
Abraço.
Aí prof, tá muito legal…kkk.. Achei isso procurando outra coisa, mas vlw.. Abs!!
Acheii essa m..da procurando outra coisa maiis… vlw
Aii prof tava otm essa aula ( sona aaahu )
Muito booom, ri muito com o Waldisnney
Meu nome também é muito comum e especial. Nós que moramos no interior muitas vezes somos registrados com nomes tirados da bíblia por um membro ilustre da família