Agora nos culpam pelo aquecimento global!
Publicado em 13 de maio de 2009
Gordo sofre.
Se algum doce é furtado da geladeira, a culpa é do gordo. Se alguém solta pum numa sala fechada, a culpa é do gordo. Se o carro arrasta na lombada, a culpa é do gordo… São inúmeros os exemplos de coisas que acontecem cuja culpa é automaticamente imputada ao gordo.
Só nunca imaginei que iriam culpar os gordos pelo aquecimento global!
Pois é. Estão garantindo por aí que os gordos têm muito mais influência no aquecimento global do que os magros. E não é qualquer mané que está dizendo isso, mas sim os pesquisadores (supostamente) sérios Phil Edwards e Ian Roberts, do respeitado London School of Hygiene & Tropical Medicine. Eles publicaram o estudo “Population adiposity and climate change” (algo como “Adiposidade na população e mudança climática”) no também respeitado International Journal of Epidemiology.
Vejamos quais os argumentos das criaturas:
Eles já começam definindo que sobrepeso e obesidade têm implicações sérias não só sobre a saúde, mas também sobre o meio ambiente. Afinal, gordos produzem mais emissões de gases que afetam o efeito estufa. E não estamos falando de flatos.
Eles usaram um método beeeeem científico. Estimaram quanta comida seria necessária para manter uma população teórica de 1 bilhão de pessoas, com 400 milhões de gordos entre elas. Pelo que se pode observar, os pesquisadores acreditam que os gordos comem sem parar e, ainda por cima, não caminham, gastando muito mais combustível para dirigir até a esquina quando querem comprar uma dúzia de pães. Portanto, cada gordo, sozinho, geraria uma tonelada de dióxido de carbono a mais que um magro.
Por fim, a conclusão é simples: gordos são um bando de filhos da mãe nojentos e repulsivos que não pensam no meio ambiente e que acabam com os recursos naturais para saciar sua interminável fome, não gastando nenhuma caloria em prol da felicidade eterna dos magrinhos que só comem o que a natureza dá e nunca usam ar condicionado ou combustível fóssil.
O pior é que vários jornais publicaram o estudo sem contextualizar ou mostrar a bizarrice da “metodologia” usada. No Brasil, em Portugal e no mundo todo, periódicos simplesmente culparam os gordos e ponto final. Phil Edwards ainda deu declarações preciosas como “andar por aí em um corpo pesado é como dirigir um carro que bebe muita gasolina” ou “é muito mais fácil entrar no carro para buscar leite do que caminhar até lá”.
Vale o registro de um dos poucos jornais que mostraram o quanto o estudo é sem sentido e de base teórica frágil: o canadense The Star. A reportagem desse periódico apontou vários “furos” da pesquisa, como a afirmação de que magros preferem caminhar enquanto gordos sempre preferem usar seus carros (com o agravante de que os gordos sempre teriam carros “grandes”, que gastam mais combustível). Informações sem base e impossíveis de se comprovar (em outras palavras, vieram da cabeça dos pesquisadores).
Além disso, o consumo de comida por si só não é grande apenas com os gordos. Uma pessoa magra que seja muito ativa (desde um atleta de alto rendimento até um corredor de fim de semana, por exemplo) também consome bastante comida. Sem contar que os gordos não são os únicos a morar em casas grandes e a consumir de forma exagerada produtos que gastam energia de forma demasiada, como ar condicionado e coisas do gênero, conforme apontado pela pesquisa.
Ignorar a emissão de gases de indústrias, esquecer o uso exagerado de plástico e outros materiais que demoram para se decompor e deixar de lado a pouca utilização da reciclagem, entre outros fatores que prejudicam o meio ambiente, para jogar toda a culpa nos gordos só serve para que menos gente leve a sério a luta contra o aquecimento global.
Quer conhecer o estudo? Leia-o (em inglês) clicando aqui.
Essa barriga na foto é do Lúcio? AHahahAHAHahhA
Na real, a barriga da foto é do Asterix… hahaha
Bem, esse estudo é a prova de que existe ignorantes em qualquer canto. E o uso da palavra ignorante vem no pior sentido, pois nesse caso são pessoas inteligentes, que se valem disso para construir um preconceito, ou melhor, ajudar a disseminar um preconceito: O da culpa dos gordos!
Pena, tanto dinheiro que poderia ser melhor utilizado…
@Gustavo
Só pra esclarecer, a barriga da foto não é minha :)
@Patricia
Sim, esse é mais um dos exemplos de recursos mal empregados para pesquisas. Mas o pior foi a ampla divulgação que isso teve como se fosse verdade absoluta.
Lúcio :
Leio sempre seus textos ,são instrutivos e interessantes.Também gosto muito da parte cultural dos podcats,as vezes não deixam vc falar direito … é o único momento sério do programa… Deixe de ser ciumento…filho é filho e neto é neto… entendeu a diferença ? Sucesso na sua escola,sei muito bem oque vc passa.Fui Diretora por muitos anos.
Discordo totalmente.Viva os gordos.E já aproveito e mando uma dieta feita especialmente para nós:
http://asaventurasdechicuta.blogspot.com/2009/05/…
“andar por aí em um corpo pesado é como dirigir um carro que bebe muita gasolina”
Pra quem não sabe, a comparação é verdadeira. Uma pessoa obesa gasta muuuito mais energia para se locomover. Se queres uma outra comparação provando, tente andar com os peneus do carro vazios. É, o carro não suporta e acaba gastando muito mais gasolina.
A população está engordando, disso todos sabemos. Mas o fato não é engordar, eles usaram a expressão mal, o fato é que pessoas sedentarias acabam com o mundo. E o sedentarismo não existe somente com gordos, eu por exemplo sou uma tripa de tão seca, como feito um boi, mas só me exercito uma vez – no maximo duas – por semana.
Existe muito mais carro por aí do que há 5 ou 3 anos atrás.
O fato de tu ser obeso (não sei se és ou não, mas pela tua opinião pude perceber que sim) não quer dizer que não devas concordar com a pesquisa.
Só pensa um pouco, cara ;)
Abraço
Letícia, sugiro ler novamente o texto para entender o que me levou a achar a pesquisa falha. Se eles falassem de sedentarismo, até dava pra "engolir", mas foram muito específicos referindo-se aos gordos.
Além do mais, eles não usaram a expressão mal; eles realmente quiseram dizer isso. Sem contar que a frase que você usou para contestar o tom do artigo é só um exemplo no meio de vários outros que você não comentou.
E, para esclarecer, eu pensei muito antes de escrever. Sou jornalista e entendo a importância de se saber o que está falando antes de emitir uma opinião. Mesmo num texto com caráter informal ou humorístico, quando se dá uma opinião sobre algo ela tem que ser fruto de um conhecimento prévio. Para me embasar, li textos a favor e contra a pesquisa e li a própria pesquisa.
Obviamente você pode ter sua opinião contrária ao que eu penso. Porém, o fato de você achar que eu sou obeso (sim, eu sou, basta olhar na seção "Equipe de peso" ou ler o título do blog) não invalida minha opinião sobre a falha teórica da pesquisa.
Só pensa um pouco, moça ;)
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