“Quem não se comunica se trumbica”

Vinicius Tapioca
@DrTapioca

Publicado em 16 de maio de 2009

Seu Dotô!

A célebre frase do “velho guerreiro” explica bem o que acontece muitas vezes no dia-a-dia do médico do interior. A boa comunicação com o paciente quase sempre é a diferença entre a cura ou complicação do quadro apresentado pelo mesmo. Ainda assim, não deixa de provocar situações hilariantes e inimagináveis que por vezes podem parecer fantasia, mas garanto que são verídicas.

A coisa mais comum que faz com que o contato médico/paciente seja improdutivo ou equivocado é a má interpretação da orientação médica, muitas vezes pela dificuldade de leitura das nossas letras. Grande sacanagem conosco. Afinal, passamos anos treinando escrever nossos garranchos, por que as pessoas não treinam lê-los? Certa vez um paciente retornou ao Centro de Saúde daqui de Amargosa para queixar-se que nenhuma farmácia havia entendido a receita que lhe fora fornecida. A atendente foi ao consultório do médico questioná-lo sobre a prescrição e retornou ao usuário informando que o doutor gostaria de vê-lo. Ao entrar na sala o colega imediatamente perguntou-lhe: “O senhor estava sentindo o quê?”, ou seja, nem o próprio prescritor havia entendido sua letra! (“escreveu não leu…”)

A falta de um bom diálogo para esclarecer possíveis dúvidas e mal-entendidos leva a falhas graves de atendimento. Um belo dia, em um posto de saúde, chegou uma usuária interessada no presentivo. A atendente lhe deu uma senha e disse para aguardar a enfermeira chamar-lhe. Pra quem não sabe, preventivo ginecológico (ou Papanicolau) pelo SUS é geralmente realizado pelo enfermeiro. Ao ser chamada, a paciente entrou no consultório e foi logo convidada a deitar na maca ginecológica, o que fez, e antes que pudesse perceber já lhe haviam passado o espéculo e colhido o material para exame. Só ouviu o “pode sair e volte em 30 dias pra pegar o resultado”. Revoltada, foi dar queixa na secretaria de saúde dizendo que foi no posto pegar um presentivo e a enfermeira lhe “enfiou um negócio nas partes”. Pra resumo de conversa, o que ela queria era um preservativo (camisinha)! O bom é que ela já tinha mais de ano que não fazia o preventivo e o exame acabou tendo sua utilidade.

Algumas medicações, como anticoncepcionais, são especialmente difíceis de orientar, principalmente quando se trabalha com pessoas de origem humilde. Um caso contado a mim por meu amigo Dr. Ângelo Augusto, ginecologista/obstetra, beira o inacreditável. Fazendo seu atendimento em mais um dia comum em nossa querida cidade, chamou a paciente seguinte e o marido pediu para acompanhá-la, pois “ela não sabe explicar as coisas direito”. Dizia ele já na sala: “Doutor, sou casado há cinco anos, temos quatro filhos, três deles concebidos mesmo usando pílula. O senhor tem que fazer alguma coisa pra ajudar a gente, pois não aguento mais ter filho!” De imediato o colega se preocupou em saber como estava sendo tomado esse contraceptivo: Toma todo dia? “Sim”; No mesmo horário? “Sim”; Faz pausa de sete dias para menstruar? “Sim”; Reinicia no oitavo dia? “Sim”; Mesmo se a menstruação ainda estiver descendo? “Sim”.

“Impossível” – pensou ele – “aí tem coisa!”. Virou-se para a paciente, que não tinha dado um pio desde o início do atendimento (só o marido falava) e perguntou: “Minha senhora, tem certeza que não está esquecendo-se de tomar o remédio, nem de vez em quando?” E o marido respondeu de imediato: “Se deixar na mão dela ela esquece, doutor, pra evitar problema, quem toma sou eu!”

Homenagem

Dia 18 de maio comemora-se o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, um movimento social que completa 22 anos lutando pela melhoria da qualidade do atendimento, inserção social e reinserção familiar dos pacientes com transtornos mentais. Dedico a próxima piada a todos que de alguma forma contribuem com esse movimento:

Um cara vinha dirigindo numa noite chuvosa quando seu pneu fura em frente a um manicômio. Ao sair para trocar o pneu, percebeu que através do portão do manicômio um louco o observava atentamente. Retirou o pneu furado e indo buscar o estepe notou que o portão encontrava-se aberto. Nervoso, voltou com estepe nas mãos, andando de costas, olhando para o louco, com medo que esse fizesse algum movimento suspeito. Acabou por chutar as quatro porcas da roda num bueiro, perdendo-as para sempre.

Desesperado colocou braço dentro do bueiro, mas sem sucesso. Ao virar se assustou com o louco a poucos centímetros do seu rosto, e este falou: “Tire uma porca de cada roda e coloque no estepe, assim ficam três porcas em cada roda e dá pra chegar à próxima borracharia e resolver o problema”.

Pasmo, o motorista exclamou: “Nossa, que idéia ótima! Admira-me que você esteja internado num manicômio.” E o louco respondeu: “Estou aqui por ser maluco, e não burro!”

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4 respostas para ““Quem não se comunica se trumbica””

  1. Mariza Sales disse:

    Seus posts estão ficando legais! Quando leio ,dou boas risadas….Uma verdadeira terapia….

  2. Anny(@Annyllinha) disse:

    Muito bom.
    Você escreve muito bem.
    Parabéns!

    @Annyllinha

  3. isaiasaragao disse:

    Seeeensacional! Sempre me cago de rir com seu quadros, eu realmente tiro o chapéu para seu quadro.

    E, apesar de tudo, quase sempre falta-me tempo para postar algum comentário mas dessa vez a última parte de seu post me roubou a atenção. Simplesmente o máximo!

    “Estou aqui por ser maluco, e não burro!” -RILITROS

    XD

    Muito bom cara! Parabens!

  4. Dr. Tapioca disse:

    Obrigado pelos elogios. Tentarei manter sempre o nível de qualidade ou até melhorar.
    Lembrem-se SÁBADO QUE VEM TEM MAIS

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