Orgia… gastronômica!

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 29 de julho de 2009

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

OrgiaNoite em Roma. As ruelas da imponente cidade, sede do fabuloso Império Romano, estavam vazias naquele momento. Ninguém, em pleno século I d.C., poderia imaginar que, do nada, luzes estranhas brilhariam perto de um aqueduto, trazendo em uma estranha máquina dois viajantes do futuro.

Do incrível aparelho futurista, agora parado calmamente diante de um atônito boi, única testemunha de tal prodígio, saíram dois homens com roupas típicas romanas. Um era gordo, usava óculos e sorria bastante. O outro era alto, esbelto e ostentava um leve bigode em sua face espantada. O primeiro começou a falar:

– Não falei que a máquina do tempo funcionava?
– OK, Tibúrcio, admito que tu se superou dessa vez.
– Agora podemos observar em primeira mão os grandes acontecimentos da história! Vamos ganhar muito conhecimento, Gui!
– Sim, claro, conhecimento… Roma Antiga, né? Que tal um pouco de… “conhecimento”… na tal orgia que você falou que a gente ia, meu caro nerd. Afinal, em Roma, coma as romanas.
– Não entendi… Mas, tudo bem, escolhi essa data exatamente porque registros históricos indicam que hoje ocorreu uma das melhores orgias de Marcus Gavius Apicius, o maior…
– Blablablá, deixa de lero e vamos logo pra lá. Mas, cara, a gente precisava mesmo colocar essas fantasias de Carnaval?
– São togas romanas. E temos que estar assim para parecermos nobres. Escravos e mulheres não se vestiam assim nas orgias.
– Que seja! Vamos pra festa, rapá!

Tibúrcio, engenheiro nuclear e gênio, além de comilão inveterado, levou seu amigo Guilherme, tarado incorrigível e engenheiro de alguma coisa que ele nem lembra direito, para o ambiente onde acontecia a orgia de Apicius.

O local contava com uma infinidade de pessoas comendo e rindo. Tibúrcio orientou seu amigo para que deitassem em um negócio que parecia uma cama com encosto chamado tricilinium, mas Guilherme havia parado de ouvir a explicação porque dava maior atenção à mulherada de cabelo estranho.

– Ninguém é de ninguém, certo?
– Calma, Gui. Primeiro vem a comida. Vamos sentar.
– E aqueles dois marmanjos se pegando na maior viadagem ali?
– Isso é normal por aqui. Deixa de ser preconceituoso. Pena que calculei mal o horário e não chegamos a tempo da sauna e do banho de piscina.
– Graças a Deus!!!

Dezenas de escravos começaram a servir os convidados. Inicialmente, ofereceram potes de água quente para que as pessoas lavassem as mãos, já que não havia talheres. Passaram então a trazer as comidas: Peixes, ostras marinadas e língua de flamingo.

– Eca! Que porcaria é essa Tibúrcio?
– É uma iguaria. A preferida de Apicius. Língua de flamingo.
– Bom… Aquele cara ali tá botando tudo pra fora. Acho que não curtiu esse troço. Ta chamando o Raul numa comadre.
– Aquilo é normal. Ele está usando um vomitorium para continuar comendo. Afinal, vamos passar dez horas aqui deitados e comendo. Inclusive, se quiser ir ao banheiro, chame um escravo para fazer as necessidades sem se levantar. Seria uma gafe.
– Dez horas?!
– Passa rápido, não esquenta. Vai, come logo essa pasta de miolos que daqui a pouco vão servir fricassê de rosas.
Vomitorium aqui, rápido!

Depois de um tempo, muitos já estavam bêbados graças aos vinhos da África, de Marselha e de Palermo, às vezes adocicados com mel. Afinal, as orgias também homenageavam Baco, deus do vinho, do prazer e da sociabilidade. Para Tibúrcio, não fazia muita diferença, já que continuava comendo seu javali com linguiça com prazer mas sem querer se sociabilizar, mas Guilherme começava a se animar.

– E a sacanagem… hic… começa que horas?
– Assim que servirem as enguias e o satírio, uma bebida de ervas que é o Viagra dessa época.
– Oba… hic… Mas que p#%%@ é aquele pinto gigante de madeira? Hic… vai rolar mais viadagem?
– Aquilo é uma homenagem a Príapo, filho de Baco e de Vênus e deus da fertilidade. Isso significa que logo logo vão parar de servir a comida e o vinho. Aí vem um filósofo para fazer uma palestra e depois dançarinas apresentando o cordax, uma coreografia cheia de lascívia para animar o pessoal.
– Oba… hic… depois de encarar até um prato de aves vivas eu… hic… mereço minha recompensa. Mas por que você… hic… está ficando transparente?
– Nós dois estamos. O fluxo cronal está desaparecendo, como calculei, e vamos voltar para nossa época. Já nos refestelamos nessa orgia, comendo todos os pratos típicos. Nossa pesquisa está completa.
– Hein? QUÊ??? Mas você… hic… não falou que esse Apicius era o maior nesse troço de orgia? E não vamos ficar… hic… para a parte principal???
– Já passamos pela parte principal, Gui. Como tentei dizer mais cedo, Apicius foi o maior gourmet da Roma antiga.
– M&#%@! É a última vez que confio numa orgia indicada por um gordo!

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2 respostas para “Orgia… gastronômica!”

  1. muito interessante seus conteúdos gostei muito deles. Parabéns :)

  2. […] Crônica originalmente publicada em 29 de julho de 2009 no Papo de Gordo. […]

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