Ana Recalde é uma gordinha yeah yeah!
Publicado em 03 de novembro de 2009
Apesar de admitir que nem sempre consegue se sentir 100% feliz com o seu corpo, Ana Recalde é, sem dúvidas, uma gordinha yeah yeah. A final de contas, quem consegue? Mostrando que não está para brincadeira, ela vem demarcando seu espaço em um ambiente que é dominado pelos homens e hoje, aos 27 anos, é uma das poucas mulheres que escreve histórias em quadrinhos. Aliás, ela não apenas é roteirista, mas também editora, distribuidora e principal responsável pelo marketing de Patre Primordium, mangá lançado há quatro meses, fruto de um projeto conjunto com o diretor de arte Fred Hildebrand – que faz os desenhos dos personagens.
Em entrevista ao Papo de Gordo, Ana falou sobre comida, quadrinhos e fez algumas confissões. Veja:
Você se considera uma verdadeira gordinha yeah yeah?
Eu tento! Nem sempre eu consigo me sentir totalmente feliz com o meu corpo. Entro em noia de tempos em tempos, faço regimes e fico sem comer, até a hora que eu vejo que pra eu ser diferente teria que sacrificar muitas coisas que me fazem feliz, até que chega uma hora que eu vejo uma dessas meninas muito magras querendo ter minhas coxas (risos). Ou até que eu vejo a foto de uma “mina” anoréxica ou dessas fotos absurdas de PhotoShop e me toco que certas coisas não levam a nada, que eu levo a minha vida numa boa, com saúde e pronto, a noia passa.
Como é a sua relação com comida, regime, essas coisas…?
Eu já fiz muita dieta, das mais variadas que você imaginar. Das doidas, das mais moderadas, com nutricionista (uns 4 diferentes), e nenhuma delas foi muito boa pra mim. Mas hoje não estou fazendo dieta e estou emagrecendo. Vai entender, né? Em épocas nas quais eu trabalho muito, como agora, acabo ficando muito tempo sem comer, e comendo em pequena quantidades. Não sou do tipo que come muito, mas adoro comer coisas altamente calóricas! Não me privo de comer nada que esteja com vontade, mas não como de gula.
Há um mito de que mulher não gosta de quadrinhos. Mas isso parece estar mudando com os mangás. Você concorda com isso?
Eu não concordo com o mito e acho que ele vem muito antes do mangá. Acho que tem muita mulher que gosta de quadrinhos, sim. O mangá talvez tenha aumentado o número de meninas que curtem HQs e colocado elas para frente. Em cosplays e tudo o mais. Mas as pessoas que não veem mulheres que curtem quadrinhos precisam olhar mais atentamente.
Você é uma das poucas mulheres que “dá as cartas” no mundo dos quadrinhos. Foi difícil chegar lá?
Eu não me considero dando as cartas. Tenho muito que conquistar tanto como roterista quanto como editora. Estou no quarto mês de lançamento da minha revista, então, ainda sou uma novata. Acho que consegui muitas coisas em apenas quatro meses, mas ainda é muito pouco tempo pra falar em estar definitivamente no mundo dos quadrinhos. Mas uma coisa eu posso dizer, tirando ganhar dinheiro com isso, entrar não é difícil (risos). As pessoas nesse mundo são super receptivas, os blogs, a galera que faz quadrinhos, outros editores. Agora, é necessário que se batalhe muito, não é fácil, o público é disperso, problemas em distribuição. Mas quem faz, faz por amor e isso se reflete em ter parceiros dispostos a conversar sempre, pessoas que te ajudam. Eu fui muito bem recebida.
A equipe do Papo de Gordo tentou fazer uma lista dos gordos nos quadrinhos e não deu muito certo. Foi difícil encontrar grandes/relevantes personagens gordos. E agora ainda resolveram emagrecer alguns, como na Turma da Mônica Jovem e na Luluzinha Teen. A que você atribui isso?
Temos a questão das vendas e do marketing, pessoas magras são mais fáceis de vender. Muito por que os gordos são vistos como um problema de saúde mundial, diferente de antigamente, quando foram criados esses títulos. Tinha uma cultura de criança gordinha era mais saudável, e isso hoje está mudando também. Cada vez mais o excesso de peso é veiculado a problemas de saúde graves como hipertensão e outras doenças. As revistas como a Turma da Mônica Jovem e a Luluzinha Teen são para um público mais novo, que é influenciado por isso, então supostamente eles devem dar o exemplo.
No caso das revistas para um público maior, tem muito de atrair os adolescentes para a leitura de quadrinhos, e isso inclui saradões e gostosas. Os desenhistas também se acostumaram a desenhar assim. Isso é uma coisa para pensarmos. Mas tem uma personagem que é gordinha yeah yeah, a Francine de “Estranhos no paraíso“.
Acho que poderiam existir mais personagens gordos nos quadrinhos, mas isso vai se dar, principalmente, pelos quadrinhos sobre cotidiano, que retratam o dia-a-dia, ou independentes.
Tem gordo no Patre Primordium? Um dos cinco filhos do Patre, amigos, personagens….
(risos) Caraca! Agora que você falou, acho que não tem no elenco principal. Temos a Amanda que é uma guerreira, então ela é um tanto forte, tem a coxa grossa e tal, mas não é gordinha. Tem a Camila, que é baixinha e magrinha demais perto da Amanda, aliás uma coisa que tratamos na quinta edição é o fato da Camila se achar feia e desengonçada por ser muito pequena, ou seja, não ter muito peito nem bunda. De resto temos os Angel, eles todos são guerreiros treinados e fortes.
Acho que tem mais abertura em quadrinhos de cotidiano, que não é o caso da Patre, que tem um fundo de heroísmo. Além de termos um número bem reduzido de personagens principais.
Uma matéria do Estadão diz que você escolheu fazer a Amanda Angel não como um espelho de sua criadora. Isso quer dizer que ela, psicologicamente, não é como você? Ou também que ela não é o seu “alter ego magro”? Por que ela não poderia ser gordinha?
Muitas pessoas dizem que a Amanda se parece comigo, mas ela não é o meu “alter ego magro”, de jeito nenhum. Ela tem traços psicológicos parecidos com os meus, mas assim como todos os personagens da Patre em maior ou menor escala. Quando eu crio alguma personagem, penso sempre na intenção de mostrar alguma coisa que a personagem sofra, algum conflito. No caso da Amanda, minha intenção é falar de destino, de família, de responsabilidade. Pensando melhor agora, ela até poderia ser gordinha, mas a intenção é que ela refletisse o guerreiro ideal desde nascença. Não quero dar spoilers, mas vamos dizer que a Amanda tem seu destino traçado, mesmo que ela e seu pai tenham tentado fugir disso. Isso reflete em outros aspectos também, como ela ser brava, sangue quente e explosiva.
Complete a frase: ser uma gordinha yeah yeah é…
… ser feliz como é e ser batalhadora.
O que a Amanda diria para uma gordinha com baixa autoestima?
“Não faça isso. Se você não se sente bonita, faça algo para se sentir! Ninguém vai fazer isso por você, e ninguém vai te amar mais que você mesma!”
E para uma gordinha yeah yeah?
“É isso aí, garota! Vamos curtir!”
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Para saber mais sobre Ana Recalde, siga essa gordinha yeah yeah no Twitter. Também, visite o site do Patre Primordium.
Que interessante, não conhecia esse mangá brasileiro. Realmente, no mundo dos quadrinhos a maioria das pessoas é musculosa ou esquelética, raramente tem um mais chubinho.
Saca só o mundo, parabéns pelo destaque ana
Gostei muito da entrevista, ainda mais por várias coincidências: Sou autor de uma HQ de uma personagem gordinha, por sinal, xará da entrevistada: "Ana Crônica", que é o mesmo nome da revista.
Mais detalhes sobre Ana Crônica estão no link do website do comentário, ou aqui: http://rafael-senra.blogspot.com/2009/12/ana-cron…
No mais, parabéns pela entrevista, muito legal!
olá…
mas…nao tem nenhuma personagem gordinha?