Publicado em 14 de novembro de 2009
Eu não estou engordando. Estou me tornando um Picasso. Bom, acho melhor eu explicar essa frase, porque assim, crua, vai dar margem a outras interpretações.
Um artista atinge seu grau de maturação quando domina todas as técnicas e todas as formas. É quando não há mais mistério em delinear a figura humana tal qual ela é, em detalhes e perfeição. Simplesmente, ele não pensa mais: “como é que eu desenho aquele pé?” A partir daí é só desconstrução. Ele muda as formas, brinca com elas, subverte a ordem pra passar sua mensagem. E não foi só no cubismo, na pintura, que isso ocorreu. Em todas as artes a recorrência é grande. O artista só pode mexer com liberdade e autoridade naquilo que domina. Se bem que atualmente a gente vê tanta gente distorcendo as formas antes de conseguir dominá-las…
Não que meu corpo tenha sido uma obra de arte, mas é que meu passado de atleta me dava músculos e formas aceitáveis, esteticamente falando. Apenas estou, depois que parei com as atividades esportivas e físicas, modificando meu layout. Distorcendo para melhor expressar meu pensamento glutão. É a minha voracidade frente ao mundo sendo demonstrada. Duvido que algum outro gordo tenha pensado nessa desculpa. Vou guardar esse texto e mostrar ao meu médico na próxima vez.
E não é só em mim que essa arte transformadora se manifesta. Se você achou que a imagem de abertura era uma clara referência à campanha “Dudu, leve a Maira pra dançar”, sinto desapontar. Não é o Dudu nem a Maira na pintura. É uma das obras mais famosas de um colombiano que admiro: Fernando Botero. O cara resolveu pintar os corpos das suas personagens de maneira arredondada, gordinha. Com influências notadamente renascentistas (repita essa, Lucio: “renascentistas”), ele dava a suas figuras formas nada convencionais, fazendo-as invadir toda a tela, todo o espaço da pintura com os corpos avantajados de seus homens e mulheres. E isso já no século 20, numa era ditatorial na adoração às formas mais esbeltas.
Uma outra referência gráfica que tenho desde minha infância é Robert Crumb. Acho que foi na Mad que vi os primeiros desenhos dele. Eu poderia recorrer ao Google pra me dizer se ele já foi publicado pela revista, mas não tenho saco pra isso. Fico com minhas memórias. Se não foi na Mad, deveria. Crumb é o desenhista perfeito para as crônicas de um Bukovski, por exemplo; desenho sujo, underground, sarcástico e contestador. As mulheres desenhadas por Crumb são fortes, generosas, chegando a botar medo num cara menos avisado ou mais delicado.
Com essa nova filosofia estética de apreciar a distorção e opulência da vida, venho percebendo que meus parâmetros mudaram. De uns anos pra cá, simpatizo pelas formas mais “crumbianas” numa mulher. As mais generosas têm me seduzido. Se antes a adoração era apenas pelos desenhos e pinturas de Crumb e Botero, agora a apreciação se torna real, física mesmo. Mulheres com um “design mais arrojado” talvez me passem a imagem de mais preparadas para as dificuldades da vida (dizem por aí que 2012 promete…). Ou então eu me sinto mais protegido por elas. Ou apenas busco um encaixe perfeito entre nossas formas. Ou esses dois caras, ao desenhar suas mulheres com tanta tinta, passem a mensagem de que, sim, precisamos acabar com essa ditadura do magro, do ideal irrealizável. Que precisamos abrir nossas cabeças a outras abordagens estéticas. Que o belo está na diferença e na variedade das formas. Expandir esse universo é expandir a mente que, ao contrário do corpo, como já disseram, jamais retorna ao estado anterior depois de ampliada.
Sobre Botero:
http://www.boterosa.org
http://www.ricci-arte.biz/pt/Fernando-Botero.htm
Sobre Crumb:
http://www.crumbproducts.com
http://rcrumb.com/artgallery.html
Ricardo Ferro é designer gráfico e ilustrador, nascido em Salvador há mais de 38 anos. Tem um apetite voraz pelas artes gráficas, tipografia, fotografia e uma boa mesa. Um glutão em todos os bons sentidos. |
Demonstrar nossa "voracidade frente ao mundo" ! Minha mãe está certa quando fala que formiga quando quer se perder cria asas. Bem, Ferreirinha precisaria de uma bem grande (asas …). Muito bom, velhinho. Eu pelo menos estou vendo minha generosa barriga com outros olhos. Abraços, Bozo.
As crumbianas são o anti-mangá. Acho Botero super fofo.
"Fantasia underground
O cultuado Robert Crumb expõe suas obsessões no Musée de L’Erotisme, em Paris
Luiz Chagas – Paris
Deusa calipígia em ação e o auto-retrato de Crumb no cartaz da mostra: ironia com feministas
Duma rápida olhada em torno da casa noturna parisiense Moulin Rouge, nota-se que todos os letreiros insistem na repetição Sex, Sex, Sex. Já era assim nos anos 30, quando o escritor americano Henry Miller lançou seu romance Dias tranquilos em Clichy, referência à rua e ao bairro de Paris. E ainda é. Só que, no momento, acrescentado de gloriosas tintas pop. Mais especialmente executadas por Robert Crumb, o festejado autor americano de histórias em quadrinhos underground, internacionalmente conhecido por ter feito a capa do lendário álbum Cheap thrills, do Big Brother & The Holding Company, com Janis Joplin nos vocais. Crumb está expondo no Musée de L’Erotisme, a poucos metros do famoso Moinho Vermelho, na mostra The sex obsession of R. Crumb (A obsessão sexual de R. Crumb), em cartaz até 11 de outubro. O evento ocupa todo o sexto andar do museu, um verdadeiro Louvre da arte erótica, local ideal para exibir o trabalho de Crumb, cujo único elo entre todos os seus desenhos é a paixão obsessiva por mulheres dominadoras, de todas as raças, credos e classes sociais.
Nascido na Filadélfia, em 1943, Crumb trocou a Califórnia pelo Sul da França. Há seis anos vive na pacata Sauve, ao lado da segunda mulher, Aline, e da filha, Sophie – a casa em que mora foi conseguida em troca de desenhos. Invariavelmente autobiográficos, seus quadrinhos são apinhados de figuras femininas de pernas grossas, traseiros empinados e seios proeminentes, como as que agora preenchem as paredes do Musée de L’Erotisme. São imagens tresloucadas, que ladeiam os originais de histórias inéditas, repletas de fêmeas demoníacas, além de quadros isolados como o dedicado à rechonchuda estagiária Monica Lewinsky, de shorts, trazendo pizzas para o ex-presidente americano Bill Clinton. Fritz, the cat, Shuman, the human, Flakey Foont e Mr. Natural, personagens masculinos da galeria crumbiana, também estão lá, salivando e fazendo papel de coadjuvantes para as deusas calipígias.
O artista, cujos desenhos hoje podem ser vistos pendurados em casas de milionários ao lado de Picasso, Hockney ou polaróides de Warhol, esteve presente ao vernissage, em março passado, tocando banjo com seu conjunto Les Primitives du Futur. Para marcar sua irreverência, logo à entrada da exposição, Crumb colocou um auto-retrato no qual, ajoelhado, promete nunca mais expor suas fantasias sexuais em histórias em quadrinhos. No cartaz da mostra, retrata-se no centro de um alvo “para feministas atirarem dardos”. Bobagem pop, porque num museu como este Robert Crumb sente-se em casa."
[…] texto foi originalmente publicado no site Papo de Gordo, em […]
Eu já´,fui magra e sexy,hoje estou com 79 kilos mais nem por isso deixei de ser bonita e elegante eo o que eu tenho de sobra e atidude e experiencia, oque mudou foi que nas curvas perfeitas de magra ,recebi largura perfeitas para ficar bem em qualquer lugar ,e sesualidade no rosto lindo. O que será melhor ser magra feia ou uma gordinha linda e sexy