Publicado em 09 de janeiro de 2010
Um dia chuvoso. Anoitecer. Um bairro cheio de cartazes preenchidos com ideogramas, lanternas e luminosos japoneses. Se estivesse mais frio, algum vapor seria visto saindo das chaminés, das janelas, dos bueiros e debaixo das passarelas. As pessoas, essas estranhas pessoas, estão vestidas com suas roupas coloridas e seus guarda-chuvas pretos e transparentes, de plástico. Os rostos orientais, as camisas de times locais, as lojas abertas, as portas fechadas, o templo cercado de um jardim especial, milimetricamente podado, as carpas, o caminho de pedra e o umbral vermelho.
Num instante, do meio da multidão que se abre espontaneamente ou levemente empurrada, duas figuras surgem: Lucio Luiz e Conrad Pichler. E todo o clima de Blade Runner se desfaz. Lucio veste sua eterna bermuda e sandálias; Conrad, a calça jeans e camiseta surrada. A tarde de domingo volta a seu início, retoma sua cor original, as famílias caminhando, os vendedores de rua, os mercantes da feirinha tradicional do bairro. A invasão do Papo de Gordo não seria sentida se os dois não tivessem de abrir espaço por entre as pessoas. E também pelo prejuízo causado ao rodízio do Restaurante Banri Kathian.
Era pouco mais de uma da tarde quando os dois chegaram ao restaurante que fica nos fundos de um hotel. Sentaram-se nas mesas internas, já que do lado externo uma ave, um “louro”, parecia ameaçador demais. Eles começaram a comer e só saíram de lá quando já chegava às cinco horas, porque o restaurante ameaçava fechar. Mas, antes disso, no calor da briga com os hashis, com o calor e uma eventual demora na chegada de um refrigerante, os pratos não ficaram vazios; as pequenas porcelanas com molho de soja estavam até a borda. Ainda assim, todo esse tempo depois, houve três tentativas de acabar com a farra gastronômica, quando o garçom perguntava-lhes: “Desejam alguma coisa, porque a cozinha vai fechar?”. A resposta era sempre sim. Mais temakis, rolinhos disso e daquilo, sushis, sashimis e mais guiosás (que tem outro nome, mas ficamos com esse mesmo). As barcarolas de madeira transformaram-se em travessas de louça, essas em pratos extras e até que chegou um pequeno potinho – o último – com o derradeiro temaki de salmão. Sim, o Lucio foi o último a comer, justo no ponto em que seu estômago precisava fechar – como a cozinha.
Mais de três horas, rodadas e rodadas de comida fresca que parecia nunca saciar os dois estrangeiros na Liberdade e tudo isso por pouco mais de trinta reais. O dono do restaurante não deve ter gostado muito, teria cobrado o dobro ou, pelo menos, pensaria em duas latinhas de refrigerante a mais para sanar os prejuízos à dispensa de peixes e arroz e para a compensação dos garçons exaustos de tanto leva e traz.
Ao sair do local do crime, ainda tinha espaço para um café em uma galeria; um pouco de papo, mais uma volta pelas lojinhas à caça de presentes para namorada, mãe, irmãs e sobrinho. E antes que cruzassem com algum androide, as duas figuras estranhas voltaram à estação de metrô, mas a Liberdade (pelo menos o restaurante) jamais seria a mesma.
O Restaurante Banri Kathian fica na Rua Galvão Bueno, Liberdade (São Paulo/SP), mas não diga que somos nós que indicamos.
Muito bom esse post! E me deixou com vontade de comer comida japonesa, xD
Texto massa. Introdução hilária, muito boa mesmo.
E olha que tô quase indo aí pra ver isso de perto.
Transcrevo uma matéria da internet sobre uma resvista em quadrinhos que li e adorei!
Gourmet. Um livro diferente sobre a gastronomia Japonesa
Marcelo Brandão
Terça-feira, 21 de Julho de 2009
O G&N foi até a Editora Conrad, em São Paulo, e conversou com o editor Rogério de Campos sobre o lançamento do livro Gourmet. Uma viagem gastronômica pelo Japão, através do olhar de dois famosos quadrinistas japoneses de mangá.
A Conrad editora acaba de lançar o livro, “Gourmet”, de Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi. Uma curiosa história em quadrinhos no estilo mangá, onde seu personagem principal faz um mergulho na gastronomia japonesa e sua cultura.
No Japão este gênero de quadrinhos aborda não só histórias de super-heróis, tão difundidas aqui no Brasil. O mangá se estende em vários aspectos da cultura japonesa e do cotidiano de seu povo. Através de seus quadrinhos seus autores abordam uma infinidade de assuntos, desde questões administrativas, até a gastronomia, como é o caso deste livro.
Jiro Taniguchi é considerado um dos principais representantes do “quadrinho de autor” no Japão, um gênero menos comercial. Seu estilo passa longe das batalhas entre forças do bem e do mal. Suas historias beiram o lirismo, com referências ao cinema e a poesia em traços bem realistas.
Em Gourmet sua narrativa segue os passos do protagonista, um grande apreciador e conhecedor das boas iguarias nipônicas, que perambula por lugares inusitados nas ruas de Tóquio e Osaka.
Mais que um retrato dessas cidades, das pessoas e de seus costumes, ao acompanharmos este personagem descobrimos algumas de suas predileções gastronômicas e percebemos o quão bom entendedor ele é da culinária japonesa.
Para saber um pouco mais sobre o livro, o G&N foi até a Conrad Editora, em São Paulo, para um rápido bate-papo com o editor Rogério de Campos.
Preocupada em apresentar um panomara mais amplo dos quadrinhos, a Conrad vêm desde o seu início colocando obras interessantes deste gênero no mercado brasileiro.
No caso de Goumert, Rogério nos conta que a Conrad se sentiu atraída não só por se tratar de uma obra de um grande autor, mas, também pelo fato do próprio editor se ver no papel do protagonista dessa história. “Eu adoro gastronomia. Adoro poder ir a Tóquio e andar pelas ruas e saborear pratos novos em lugares esquisitos”, comenta o editor.
Sobre as características deste livro Rogério conta: “O que mais me chamou a atenção foi a simplicidade na história. Uma simplicidade até difícil de explicar, assim como uma boa comida. Ele não fica disfarçando que o seu verdadeiro interesse são as refeições. É um sujeito que vai andando por Tóquio, entrando nos lugares e descrevendo o clima dos restaurantes e a comida”, comenta Rogério.
E por se tratar de um quadrinho nada é mais adequado para isso. Já que os desenhos revelam imagens e situações que exploram o silêncio e a subjetividade, como formas de se contar uma boa história e, neste caso, também um bom prato.
“Trata-se de uma obra que não se obriga a ter uma linearidade, que nem sempre dá conta de retratar a experiência em si”, ressalta Rogério.
Neste ponto o estilo mangá realmente nos provoca. A começar pela maneira em que se lêem seus quadrinhos. O início da história está no final do livro, de onde devemos começar a leitura. Mas não é apenas isso.
A cerca do autor, Jiro Taniguchi, Rogério nos aponta que a ausência de ação é uma característica em suas obras, o que revela um pouco mais do caráter poético de suas criações.
Uma experiência que levará leitores interessados na culinária japonesa – até mesmo aqueles que já viajaram para Tóquio inúmeras vezes (como é o caso de Rogério) – a conhecer aspectos de suas ruas e de suas comidas, que não encontramos em um livro tradicional de culinária japonesa.
“Estamos acostumados a relacionar a gastronomia em ocasiões onde jantamos com amigos, por exemplo. E neste livro o autor expressa outro prazer. Aquele em fazer suas refeições sozinho. Em andar por aí à procura de uma nova comida, de um novo restaurante. Do silêncio nas refeições. Este livro mostra isso”, revela Rogério.
Gourmet pode ser aquele seu amigo, que quando chega de uma viagem ao Japão lhe diz: “Olha, fui a um restaurante que tem uma comida deliciosa, num lugar incrível! Você não iria acreditar, você tinha que conhecer”.
Realmente o Gourmet é tudo isso, um pedaço de uma história que não pode ser contada.
Prove-a!
Senti a tensão entre os garçons se olhando, o dono vendo ao fundo a 'movimentação' e o chef na cozinha tendo o maior desafio dele… Isso daria um filme.
Vocês ajudaram no desenvolvimento das habilidades do chef e dos garçons!!
PRO TES TO!!!!!!!!!
Nesse dia, eu, Logan e Flavio estávamos na Liberdade também e esses dois GORDOS *-*-*-* nem sequem telefonaram pra gente pra convidar pra passearmos juntos, ou pelo menos trocarmos algumas ofensas!
Se o Max nascer com cara de salmão vocês vão ver só!
Tenho ditoooo!
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Ah, adorei o texto, parabéns tio Conrad!
A propósito, e aquela pizza?
:D
Social comments and analytics for this post…
This post was mentioned on Twitter by lucasthuha: RT @papodegordo: Hashi Runners – http://uiop.me/Imu – #papodegordo…
Lucas e Ricardo: aproveitem, mesmo! Comida japonesa (e também a chinesa e coreana) são onipresentes na Liba; me deu fome, até de pensar…
Tamara: Eu já tinha lido alguma coisa sobre esse mangá, Gourmet, que tem certamente alguma afinidade com o que tento escrever aqui no "Purê de Letrinhas"; assim que sobrar uma grana, vou comprar pra ler.
Manuela: Então imagine a felicidade deles quandos saímos do restaurante, mal deixamos a porta e conseguimos ouvir os vivas e as palmas… hehehe (mentira, eles são ótimos, gentis e o serviço é muito bom!)
Camila: Poxa, eu tenho defesa, em poucas palavras: Culpa do Lucio! hehehe… quando nos encontramos na República até pensamos em ligar para vocês, mas depois esquecemos… acho que tinha a ver com rodadas e mais rodadas de sushi e temakis, rs. Mas, se seu filhinho nascer com cara de Bruce Lee, o Flávio vai ficar muito preocupado, rs. (Quanto à pizza, é só me chamar que eu vou, estou de férias até a próxima quinzena, acho eu…)
Abraço e obrigado a todos pelos comentários! ;)
Conrad
Camila, a culpa foi do Conrad. Afinal, ele tinha o telefone do Flavio à mão e não ligou. Eu sou inocente nessa :)
Hummmm….
@Conrad + @Lucio: perdoar os dois porque são gordos amigos, afinal, quem não esquece até da mãe em meio à tanta comida???
Conrad, também tô de férias (forçadas, né), o Logan e o Joca tão aqui em casa louucos por um tio para jogar Quebra Gelo e Pula Pirata, pode aparecer! Na sequencia (sem trema no u)a gente pede a pizza!
Valeuuu!
Mas que maravilha de restaurante é esse, meu deus? Quando eu for a SP vou ter que passar por lá!!
Conrad, que demais!
Me senti no B. Runner, num filme oriental, num lugar longe, muito longe da Liberdade. Hahaha.. mas fiquei impressionado com as horas gastas e a comida adquirida para isso.
Imaginei o sushiman arrancar a katana da parede e ameaçar vocês de irem embora. Hahahaha
Parabéns pelo texto!
Olá, gente, mais uma rodada de respostas aos comentários bacanas (tentei responder antes, mas meu computador travou duas vezes, então…):
Lucio: A culpa é sua! :D
Camila: A culpa é do Lucio! :D Mas, de fato, depois de tanta comida a gente já tinha esquecido os próprios nomes… hehehe. Ah, espero que esteja correndo tudo bem com a gravidez e que o Flávio não esteja te deixando doida… Vamos marcar alguma coisa, ainda que seja na época da Campus Party, ok? ;)
Litha: Você vai adorar esse lugar… heheh… aliás, na Liba o que não falta é lugar para se perder de tanto comer e etc. ;)
Leo: Valeu pelo elogio! Mas, nas paredes só tem algumas gravuras de lutadores de sumô… o que faz sentido, num lugar que se come tanto… hehehe
Abraços e obrigado!
Olá, aqui é o Fábio do Omegacast. AMO sushi e sabe o que é mais engraçado? EU ODIAVA sushi até me mudar pra sampa (eu nasci em Belém do Pará, no meio do Inferno Verde), mas eu nunca comi sushi na Liberdade, acredita? Depois de ler esse texto, COM CERTEZA vou passar lá assim que der.
Muito bom o texto. Difícil achar textos bem escritos hoje em dia.
Abs