Publicado em 05 de setembro de 2010
No “top 5” dos 50 maiores gordos dos quadrinhos, já apresentamos um gato, um viking e um bárbaro. Ótimos personagens, mas sem uma identificação imediata com os leitores mais novos. Tudo bem que, dentre esses, as crianças adoram pelo menos o Garfield, mas ainda assim não entendem todas as piadas das tirinhas (ele é fofo, esse é o ponto).
Nosso vice-campeão, contudo, permite uma total identificação das crianças. Especialmente os gordinhos, claro. Estamos falando do Bolinha: amigo (e, por vezes, adversário) da clássica Luluzinha. Os mais jovens provavelmente conhecem o personagem dos desenhos animados, mas quem tem 30 anos ou mais certamente já se divertiu bastante lendo os gibis do personagem e querendo ser igual àquele gordinho esperto e sacana, líder da turma e que apronta grandes confusões (“Sessão da Tarde” total essa frase, admito).
Para conhecer a origem do Bolinha, temos que ser cavalheiros e dizer “Primeiro as damas”. Tudo começou em 23 de fevereiro de 1935, quando a desenhista Marge estreou a publicação de um cartum diário sobre uma menina de cachinhos chamada Little Lulu. Eram histórias de um único quadro, no estilo de vários cartuns daquela época. Luluzinha fazia algumas travessuras e não tinha um elenco de apoio consolidado, com poucos personagens recorrentes, geralmente sem nome ou personalidade mais sólida.
Anos depois, a Luluzinha seria levada para os comic books. Para essa nova empreitada da personagem, foi convocado o artista John Stanley, que criou um rol de coadjuvantes para auxiliar no desenvolvimento das histórias, aproveitando alguns personagens que apareciam volta e meia nos cartuns e criando outros. Entre os personagens aproveitados para os quadrinhos, para os quais Stanley dava nome e personalidade (já que eles não eram tão desenvolvidos originalmente), havia um moleque gordinho que seria o nêmesis da protagonista: Thomas “Tubby” Tompkins, que no Brasil ficou conhecido por Bolinha (nome bem escolhido, já que tubby é um apelido comum – e não muito simpático – para gordos nos Estados Unidos).
As histórias da Luluzinha foram inicialmente publicadas em dez edições não consecutivas da revista Four Color entre 1945 e 1947, até que ganhou um gibi próprio em 1948. Contudo, os leitores gostavam tanto do Bolinha que ele também ganhou uma revista com seu nome em 1952. As histórias feitas por Stanley eram exageradamente cômicas e Bolinha ganhou até alguns coadjuvantes próprios, como os homenzinhos de Marte (o que dá pra ter uma ideia de como o artista era doido). O gibi do gordinho foi publicado até 1964, enquanto que o da Luluzinha seguiu até 1984 (depois disso, apenas voltou em eventuais republicações).
Luluzinha e Bolinha foram personagens marcantes para muitos brasileiros. Na época em que eram publicados por aqui, concorriam em popularidade com a Turma da Mônica, tanto que ainda hoje usamos a expressão “clube do Bolinha” (referência ao clubinho que trazia escrito do lado de fora “Menina não entra!”). Sem contar que ele até virou título de música do Erasmo Carlos!
Podemos até considerar que a fama de Luluzinha e Bolinha consegue ser maior no Brasil do que nos Estados Unidos. Tanto que o gibi dos dois personagens tiveram uma sobrevida muito além do original. A revista Luluzinha começou a ser publicada no Brasil já em 1955 pela editora O Cruzeiro, seguida pelo gibi Bolinha em 1957. Em 1974, ambas as revistas foram assumidas pela editora Abril, que lançou material nas bancas até 1995 (mais de uma década depois da revista norte-americana fechar), sendo que, nos últimos anos, em apenas uma revista chamada Lulu & Bolinha. Desde 2006, as histórias dos personagens são republicadas em forma de livro pela Devir.
Bolinha tem muitas características que garantem sua “medalha de prata” entre os maiores gordos dos quadrinhos. Ele é o líder da turma dos meninos e sempre está à frente de mirabolantes planos cujos objetivos geralmente se resumem em implicar com as garotas ou simplesmente fazer bagunça. Talvez não atingisse tanto as meninas (que naturalmente se identificavam mais com a Luluzinha), mas todos os rapazes possivelmente já brincaram de ser “O Aranha”, detetive personificado por Bolinha que sempre colocava a culpa de tudo no pai da Luluzinha (bom… ele geralmente era mesmo o culpado).
O simpático gordinho é, enfim, a melhor personificação de uma criança acima do peso nos quadrinhos. Sua barriga não o impede de ser ativo, feliz e integrado ao grupo. E, considerando que ele surgiu há quase 70 anos, não dá pra ignorar um certo pioneirismo ao mostrar que crianças obesas não precisam ficar alheias das demais e muito menos se conformar com a posição de “alvo das piadas”. Bolinha ensina direitinho o que fazer nesses casos: encha de pancada quem te zoar (educadores, ignorem a última frase).
PS: Para quem sentiu falta de comentários sobre a “Luluzinha Teen”, eu já disse tudo que precisava sobre essa aberração num artigo do Papo de Gordo (clique aqui para ler). Sim, eu sei que parcialidade é feio, mas leia o artigo que você vai entender porque eu não considero a versão adolescente da turma da Luluzinha como sendo realmente esses personagens.
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Para conhecer melhor o personagem:
Luluzinha Uma dupla do barulho |
Luluzinha O piquenique |
Luluzinha Menina não entra?! |
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Clique aqui e confira todas as matérias sobre os 50 maiores gordos dos quadrinhos.
Alto lá, Lucio! Embora não tenha sido muito desenvolvido como personagem (como, aliás, a própria Lulu), o Bolinha foi até certo ponto criado pela Marge!
Eis uns cartuns da Marge que incluem o "proto-Bolinha": http://www.tcj.com/blog/the-strangest-pictures-i-…
E aqui há outros que incluem uma proto-Aninha e uma proto-Glória também: http://hubpages.com/hub/Free-Little-Lulu-Coloring…
Sem uma grande quantidade de exemplos à mão, assumo que a Marge desenhava um elenco de coadjuvantes recorrente que serviu de base para o trabalho do Stanley na série. Como a tira era muda, Stanley deve ter tido o trabalho de batizar e dar personalidades a todos, mas eram personagens da Marge…
Hunter (Pedro Bouça)
Hunter,
Culpa dos sites sobre o Stanley, que davam essa informação de maneira constante, com fontes sólidas. Vou corrigir isso. Valeu :)
Informação devidamente corrigida, tio Hunter.