Desabafos de um gordo noveleiro

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 06 de outubro de 2011

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Sou noveleiro com orgulho. Não tenho vergonha de assumir que assisto novela desde pequeno. Sou tão noveleiro que, quando não consigo acompanhar diariamente as tramas, vou lendo os resumos na internet (já se foi o tempo em que eu só tinha a Revista da TV como fonte).

Além das histórias picantes (Pantanal e Araponga fizeram meus 12 anos mais felizes), também venho acompanhando os gordos na TV há vários anos. E posso garantir que as novelas nunca foram muito simpáticas com nossos colegas adiposos.

Infelizmente, não pude acompanhar a rainha de todos os gordos novelísticos: Dona Redonda, a personagem interpretada por Wilza Carla na novela Saramandaia que, literalmente, explodiu de tão gorda. A clássica cena foi ao ar dois anos antes de eu nascer e não sei se me influenciaria a não comer tanto, mas acho que é mais provável que eu simplesmente evitasse ficar perto de pregos e alfinetes.

De lá pra cá, gordos só apareciam como personagens de pouquíssimo destaque. Os que apareciam um pouco mais eram os alívios cômicos. Um gordo jamais chegaria a ser galã. Caramba! Até o Pedro Cardoso já conseguiu ser (praticamente) galã, pegando a mocinha da novela Pátria Minha! Tudo bem que depois ele a perdeu pro Fábio Assunção, mas, pô, se o Pedro Cardoso pegou a mocinha da novela das oito, meu Deus, qualquer um pode!

Mais recentemente, durante a novela Sete Pecados, foi criada uma família de gordos comilões para representar (oh!) o pecado da gula. Só que o público rejeitou tanto esse pessoal que eles literalmente foram “deixados de lado” durante a grande maioria dos episódios. Tivemos também uma “gordinha bem-resolvida” em Malhação, mas é uma exceção (se bem que, cá entre nós, Malhação não conta).

Toda essa enrolação é para falar do spa da novela Morde e Assopra, que termina na próxima semana. Depois da tentativa frustrada dos pecadores, esse foi o primeiro “núcleo gordo” a sobreviver a uma novela. Com pouco destaque e sem relevância para a trama, mas ainda aparecendo em grande parte dos episódios.

Desde que a novela começou, eu queria escrever um post sobre esse spa. Nas primeiras semanas, eles só apareciam para piadas óbvias, num estilo Zorra Total. Uma das personagens, por exemplo, tem como único objetivo de vida burlar o regime e se empanturrar de comida. Não queria criticar sem acompanhar mais da novela e ver o desenvolvimento dos personagens.

Esperei um pouco mais. Chegou a Suzy Rêgo fazendo o papel de um atriz decadente que queria emagrecer. Levei fé que ia rolar algo interessante, mas exploraram só o desespero dela ao ter que comer uma folhinha de alface (literalmente) e descobrir que teria que caminhar dez quilômetros no dia seguinte em jejum!

Gente… Eu fui três vezes a um spa. Não adiantou de nada, mas uma coisa é fato: Ninguém passa fome num spa e nem é obrigado a fazer exercícios em condições que poderiam levar à morte! Eu sei que esse é um núcleo de humor, mas uma coisa é termos um spa “exagerado” na Praça é Nossa, outra coisa é isso aparecer em uma novela que, apesar de ser ficção, precisa de um mínimo de verossimilhança.

Sem contar as piadas. Desde o início da novela, meses atrás, o humor relacionado ao spa só tem dois caminhos: fome ou baixaria. Em um episódio, por exemplo, os “internos” do spa sequestraram um papagaio com o objetivo de comê-lo! Em outro, colocaram uma espécie de “viagra” na sopa e todos, pacientes e funcionários, começaram a furunfar uns com os outros.

Nada contra fazer piadas com comida num spa. Afinal, o principal papo num lugar desses é exatamente o porco assado que estaríamos devorando caso não fôssemos obrigados a saborear uma insossa salada de espinafre. Mas não precisava ficar meses se apoiando em apenas dois assuntos (sendo que um deles, o sexo, sempre aparecia de maneira muito forçada). Isso só ajudou a fazer com que esses persongens ficassem “apagados” durante a novela e não contribuíssem em praticamente nada com a trama.

Será que um dia os autores de novela vão perceber que dá pra usar gordos para fazer humor sem bater na tecla da comilança o tempo todo? Que tal dar uma olhadinha em Mike & Molly, por exemplo? Ou até no gibi da Turma da Mônica Jovem, que tal?

Só não vale fazer igual à Venezuela e ao México, que fizeram uma novela cuja protagonista é gorda, mas colocaram atrizes magras com um enchimento bizarro! Já imaginaram a Déborah Secco com cinquenta quilos de espuma em volta do corpo? Seria o primeiro bilboquê protagonista da TV brasileira!

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Para quem ficou curioso, aí embaixo está o vídeo da Dona Redonda explodindo. Não seria legal um remake de Saramandaia? Ia ser muito legal se usassem a Preta Gil, fica a dica.

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2 respostas para “Desabafos de um gordo noveleiro”

  1. Concordo tio lucio, dava para explorar melhor o núcleo do spa, mas a trama desse novela é boa! Não sou muito noveleiro, mas confesso que as novelas das 7 são as que acompanho de uns tempos pra cá!

    Bené

  2. joao paulo disse:

    tem tambem 2 gordinhos em vidas em jogo,da record.eles tem muita influencia na trama.

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