Um clichê de Natal – parte 2 (de 3)

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 21 de dezembro de 2011

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Se ainda não leu o capítulo anterior, confira-o imediatamente. Não que seja lá muito necessário…

Natal. Tempo de paz. Época de olhar para a família e sorrir pela dádiva de compartilhar seus momentos com pessoas que você ama. Pena que isso não seja uma realidade para Roberto da Silva, pobre trabalhador de um loja que vende produtos vegetarianos e que é humilhado constantemente por seu patrão, Rodolfo Escrúge.

Roberto estava deprimido. Nem mesmo a lembrança do sorriso inocente de seu filho, o Pequeno Tim, o alegrava. Pelo contrário: saber que não conseguia dinheiro suficiente para pagar os remédios do menino, que andava de muleta por conta de uma unha encravada hereditária, só deixava Roberto mais triste. Tão triste que ele resolveu se jogar da ponte Rio-Niterói.

– Não faça isso!
– Quem é você?
– Um… amigo. Não se jogue da ponte, por favor.
– Cara, minha vida é uma m#$%@, não quero viver. E você não tem nada com isso. Nem sabe quem sou eu.
– Você é o Roberto.
– Como… Como você sabe meu nome?
– Eu me chamo Azagrabezalezel, sou um anjo.
– Hein?
– Pode me chamar de Zezé, que fica mais fácil. Sou um anjo e vim te ajudar.
– Se você é um anjo, cadê suas asas?
– Aí que você entra, meu chapa. Eu tenho que convencê-lo de que a vida é boa e vou ganhar minhas asas.
– Hein?
– Então, você vem comigo? Ei, por que está andando de costas pra longe de mim?
– Olha… Eu não tenho dinheiro… Fica calminho… Devagar… Socorro! Maluco!
– Ei! Volta aqui! Para de correr! Cacete, não é nesse Natal que eu ganho a p*%%@ das minhas asas!

Depois de fugir desesperadamente daquele que considerou um mendigo maluco assassino psicopata, Roberto pegou o primeiro ônibus que apareceu e voltou para sua casa, no subúrbio beeeem distante. Como não queria correr o risco de ser novamente interrompido na tentativa de se jogar da ponte, resolveu que se mataria com gás quando a esposa fosse trabalhar e levasse o filho para a escola. Aí lembrou que era antevéspera de Natal e ninguém ia sair de casa. Ficou mais deprimido ainda.

Naquela noite, depois de engolir uns quatro comprimidos tarja preta para conseguir dormir, Roberto foi acordado por um estranho homem vestindo uma fantasia de senador romano. Ou algo do gênero. Achando que ainda estava dormindo, olhou para o lado e viu que sua esposa parecia estar congelada, como se o tempo tivesse parado.

– Roberto?
– Hoje é o dia de malucos me chamarem pelo nome?
– Você é Roberto da Silva, funcionário de Rodolfo Escrúge, correto?
– Perai… O velho filho da mãe agora tá invadindo meus sonhos?
– Eu sou o fantasma do Natal presente. Ele não apareceu no horário que eu devia pegá-lo.
– Hein?
– Ele foi levado pelo fantasma dos Natais passados, mas pelo cronograma já deveria ter voltado.
– Hein?
– Como eu o traria aqui para que ele visse seu filho aleijado e ficasse com peninha, resolvi me adiantar e mandei um torpedo pra minha colega, mas ela não respondeu.
– Hein?
– Aí eu liguei pra central e descobriram que ela desviou da sua rota e está indo para o Polo Norte. Meus superiores estão achando que ela quer fazer algo de ruim.
– Um minuto… Você não notou que estou falando “hein?” há um tempão? Isso significa que não estou entendendo porcaria nenhuma! Que droga de sonho é esse? Eu fiquei pensando na Gisele Bündchen antes de dormir e é ela que devia estar aqui!
– Você precisa me acompanhar.
– Do que você está falando?
– Você precisa ir comigo até o Polo Norte! Precisamos salvar o Papai Noel!
Hein?

Achando que acompanhar o estranho homem do seu sonho (ou do que acreditava ser um sonho) o ajudaria a chegar logo na parte em que a Gisele Bündchen apareceria cheia de amor para dar, Roberto concordou em seguir o fantasma do Natal presente. De pijama e chinelos, caminhou até a estação de trem e, num rasgo de curiosidade, bom senso e falta de coisa melhor para falar, questionou seu guia de viagens:

– O que estamos fazendo aqui?
– Vamos pegar o Expresso Polar.
– Er… Aqui só dá pra pegar o Central-Japeri. E os trens nem funcionam a essa hora da madrugada.
– Confie em mim. Agora, me ajude a pular o muro.
– Pular… o muro?…
– É que eu esqueci meu vale-transporte mágico na outra túnica. Ajuda aqui, por favor.

Roberto e o fantasma do Natal presente finalmente conseguiram chegar à plataforma, onde ficaram esperando pacientemente. De repente, uma forte luz surgiu ao longe. Roberto ficou maravilhado ao ver um belo trem maria-fumaça se aproximando. Quando finalmente parou, um homem muito parecido com o Tom Hanks, se aproximou e mandou que eles entrassem. Roberto estava extasiado e entrou no veículo mágico, curioso para saber para onde esse sonho o levaria. Com sorte, na última estação estaria a Monique Alfradique nua beijando apaixonadamente a Luana Piovani. Tal pensamento o deixava feliz.

De longe, um homem observava tudo e falava para si mesmo:

– Finalmente achei o filho da p#%@! Agora ele vai me ajudar a ganhar essas asas por bem ou por mal!

Continua…

No próximo capítulo: As histórias de Rodolfo Escrúge e Roberto da Silva finalmente vão se unir em um final tão surpreendente que nem mesmo eu sei qual será. Ah… E dessa vez prometo que o Papai Noel realmente aparecerá! Ou não.

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5 respostas para “Um clichê de Natal – parte 2 (de 3)”

  1. Claudinei disse:

    Hahaha… “Tio” Lúcio, eu sou seu fã! E também quero esse negócio que “tu tá” tomando… Meu, que viagem!

  2. paulo henrique disse:

    Eu já falei pro tio Lucio pra parar de tomar bolinha na veia cheirar maconha ai da nisso. ou será que e algum efeito colateral da medicação dele ,de qualquer maneira a hipótese de lúpus esta descartada.

  3. […] próximo capítulo: As misteriosas intenções do fantasma do Natal passado, o motivo de Rodolfo Escrúge ter se […]

  4. […] Para (tentar) entender a história, leia o primeiro capítulo e, depois, o segundo capítulo. […]

  5. […] Crônica originalmente publicada em 21 de dezembro de 2011 no Papo de Gordo. […]

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