Mães Gastroplastizadas – História da Marcela

1- Você foi uma criança/ adolescente gordinha? Sabe a origem do seu sobrepeso? Tireóide, ansiedade…?

Até meus 5 anos de idade eu era um palito com um cabeção, tipo aqueles pirulitos à la Chaves, depois, comecei a engordar. Acho que comecei a gostar de comer e depois, com o começo da escola, vieram os malas que pegavam no meu pé e a coisa piorou. Aos 8 anos eu já era bem gordinha. Acho que foi um pouco de estresse sim, de ansiedade. Minha mãe tem hipotireoidismo, mas foi diagnosticado quando eu já era adolescente, minha irmã 12 anos mais nova também tem, eu sou gorda de sem-vergonha mesmo… hehehe…

2- Sua família lhe impôs dietas? Como você as encarava?

Eu gostava de comer, assim como gostava de andar de bicicleta ou brincar e estudar. Sempre pegaram no meu pé e eu chegava a odiar meu tio (irmão da minha mãe) que me perseguia constantemente com patadas quanto ao meu peso. Nunca soube reagir bem a críticas porque sempre fui acostumada a receber ironias, deboches e xingões. Nunca me fizeram uma crítica construtiva a respeito. Além disso, eu não me importava em ser gordinha, só que todos (família, colegas) me incomodavam muito. Não foi uma nem duas vezes que bati em colegas por sofrer bullying na escola (antes o termo correto era pegação de pé, não é?),  fui a MUITOS médicos, com grandes variações de peso. Emagrecia e engordava tudo de novo depois, porque não via sentido em ter de fazer dieta e ao mesmo tempo a incomodação era constante, como se eu não pudesse decidir as coisas por vontade própria… e isso me incomodava muito.

3- Como o peso impactava a sua vida antes da gastroplastia em relação:

a comprar roupas Era uma droga! Nada servia, eu usava roupa de senhora com 14 anos de idade e isso me afastava mais ainda das pessoas da minha idade. Acredite, apesar de eu ser bem resolvida agora e feliz, não tive uma adolescência cercada de amigos e felicidade.

Verão na praia ou na piscina: Não ia à praia seguido, era um parto tirar a maldita canga e mostrar as pernas roliças na frente do povo… piscina e clube ou ir na piscina na casa de amigos então JAMAIS!!!! Entre meus 14 e 20 anos então eu ia na praia de roupa mesmo, de calça corsário. Nem bermuda ou short eu usava.

Na escola e/ou no trabalho Camisetão, legging e All Star, esse era e é até hoje meu vício, pois era o que servia… praticamente sempre dos 80 aos 100kg em variação de peso, não resta muita coisa pra usar.. depois que descobri meu lado rock então as camisetas de rock/metal me perseguiram… e acabei adotando um estilo mais irreverente, que não dava muita importância a coisinhas femininas como saia, meias calças, vestidos e sapatos. Duras críticas nos meus primeiros estágios e um certo desleixo me acompanharam nessa fase.

Com os amigos(as) Acabei dando valor a quem me dava valor, então fui conquistando um grupo seleto de amigos em comum, que me respeitava como pessoa sem querer me colocar na balança. Essa parte me deu um pouco de confiança e elevou minha autoestima, mas continuei com o meu estilo atirado, já que o peso igual não me permitia variar muito as vestimentas e eu já tinha me acostumado com meu estilo.

Com namorado(a) e/ou cônjuge Não tive namorado fixo até os 20 anos de idade… não rolava muita coisa e nem eu dava atenção pra isso. Dos 20 aos 31 tive namorados fixos, mas sempre acabava dando estresse e terminava, apesar de não ser nada relativo ao peso. Mas eu mesma não procurava alguém antes dos 20 porque não tinha a autoestima elevada o suficiente pra achar que tinha alguma chance.

4- Como você soube da existência dessa cirurgia? Alguém te sugeriu, você leu em revista? Como foi esse primeiro contato com a “chance de pesar menos”?

Não me lembro ao certo qual dos 300 endocrinologistas me recomendou a cirurgia quando cheguei ao auge do meu peso, aos 120kg com 1,72 de altura. Desleixei completamente e minha relação com minha família era um inferno, assim como no colégio ou em qualquer lugar. Então decidi ir ver como era e fiquei feliz ao saber que poderia ter solução. Além disso, eu tinha um cisto no estômago que devia ser removido pra não dar problema futuro, então quis unir o útil ao agradável!

5- Qual era seu peso antes da cirurgia? Qual era seu peso pós cirurgia? Qual seu peso hoje?

Antes da cirurgia cheguei a pesar 124kg. Depois da cirurgia reduzi pela metade, 61 kg. Hoje continuo na briga com a balança mas sem neuras, engordei na gravidez e tenho meus altos e baixos. Estou atualmente com 90, em dieta e rumo aos 75/80, que é o peso que quero ter! 61kg nunca mais, eu parecia uma doente … e estava mesmo… anemia era comum já.

6- Como você avalia sua vida após ter passado pela gastroplastia? Faria novamente?

Não faria novamente. Passei igualmente por altos e baixos, quase perdi a vida na brincadeira… tive uma trombose que evoluiu para uma embolia pulmonar e fiquei 3 semanas na UTI após o choque anafilático da tomografia por alergia ao iodo intravenoso. Não recomendo, não faria e hoje estou bem comigo mesma, emagrecendo por força de vontade própria. Nunca quis ser magrinha e sofri a vida inteira bombardeio de todos os lados do mundo. É muito triste ser gorda, não pelo fato de ser gorda, mas pela crueldade das pessoas ao teu redor, como se tu causasse nojo, repulsa, vergonha ou qualquer outro sentimento desses. Tive uma grande queda na saúde por conta das anemias e um grande abalo emocional. Não soube usar meu corpo magro…. me desvalorizei como pessoa e vi o quanto de gente queria ser meu amigo pela minha embalagem, sendo que a essência sempre foi a mesma. Poderia nunca ter feito essa cirurgia se não fosse o caso do meu cisto.

7- Você fez a cirurgia antes ou depois de ter filhos? O que a gastroplastia te ajudou em relação à gestação, parto?

Fiz a cirurgia um ano e meio antes e foi bem complicado, pois estava magra demais, com anemia constante e despreparada psicologicamente. Foram tempos BEM difíceis. Engordei 30 kg do quinto ao nono mês de gestação, com muito estresse…. e depois acabei engordando aos poucos de novo. Comia tão seguido por ansiedade que a cirurgia não segurou. Inclusive nem o psiquiatra deu conta disso, já que foi ele quem contou no pior momento de relacionamento com minha família que eu estava grávida. Fui expulsa de casa e morei por um tempo (até meu filho ter meio ano de idade) com minha avó. A cirurgia não me adiantou em absolutamente NADA. Claro que eu nem poderia ter engravidado com 120 kg por ser de alto risco, mas com 61kg e muita anemia também não foi a melhor opção. No parto, optei junto com a ginecologista/obstetra por cesareana, já que tínhamos medo da força de contrações… minha cirurgia não foi por laparoscopia, foi a de mais de 30 pontos e grampos, então, era arriscado fazer muita força.

8- Qual idade de seu filho?

Meu filho tem 9 anos e meio agora, é um menino feliz, gordinho também, e respeito ele, cuidando pra que não chegue ao ponto em que eu cheguei. Ele tem tempo depois pra crescer e emagrecer com saúde, eu respeito ele como gostaria que todos tivessem a vida inteira me respeitado. Ele é gordinho, mas é MUITO feliz. O que importa é estarmos felizes conosco. Dei muita importância a vida inteira ao que os outros pensavam… e fui obrigada a dar, na realidade, pois a pressão e encheção de saco da minha família eram insuportáveis.