Publicado em 08 de junho de 2012
Essa é a última entrevista da série “Mães Gastroplastizadas”, era para ser postada no mês de maio, mas o mês foi curto para tantos relatos e acabamos entrando o mês das festas juninas com esse tema. Se você perdeu os outros relatos, não fique triste, clique aqui, aqui e aqui e saiba tudo que rolou sobre histórias verídicas de redução de estômago.
Segue, então, a história da nossa amiga podcaster e blogueira, a Kellen, 31 anos, de Curitiba.
1- Você foi uma criança/ adolescente gordinha? Você sabe a origem do seu sobrepeso? Tireóide, ansiedade…?
Eu acreditava que sim, porém, mais tarde, descobri que eu tinha uma imagem distorcida de mim mesma.
2- Sua família lhe impôs dietas? Como você as encarava?
Meus pais se divorciaram quando eu tinha seis anos. Isso foi um divisor de águas pois eu deixei de ser a princesinha do papai para ser um adulto miniatura que atendesse as expectativas da minha mãe. Neste período minha mãe passou grandes dificuldades financeiras comigo e com meu irmão e passou a controlar nossa comida em cada detalhe, como por exemplo a quantidade de margarina no pão ou as colheradas de chocolate em pó no leite.
3- Como o peso impactava a sua vida antes da gastroplastia em relação:
Eu tive sorte de ficar obesa em uma época em que existe uma preocupação em valorizar mulheres grandes e em uma época em que existem lojas especializadas em vender moda bonita para gordo.
a comprar roupas – o grande problema é que ser gordo e bem vestido custa caro. Também é um pouco frustrante quando sua numeração extrapola os 50 (no meu caso cheguei a usar 56).
verão na praia ou na piscina – verão? o que é isso?
no trabalho – no trabalho as pessoas acompanharam minhas idas e vindas no caminho da obesidade. Não sofri nenhum preconceito direto, na verdade, eu tinha um sentimento de gratidão por permitirem que eu, aberração, trabalhasse para eles. (era assim que eu me sentia, uma aberração).
com os amigos(as) – eu evitava sair e tinha pouquíssimos amigos. Entrava em pânico quando tinha algo inadiável e sempre inventava desculpas para não ir. Só consegui me sentir a vontade com um grupo muito especial de pessoas que inclusive motivou a minha opção pela gastroplastia quando eu de fato já estava no fundo do poço (ou seria fundo do pote de sorvete?) e os mantenho por perto até hoje.
com marido – meu marido demorou muito tempo para perceber o quanto eu estava obesa. O amor dele era tão sincero, incondicional e absolutamente cego, que ele me via da mesma forma que eu era na época em que começamos a namorar (época em que eu era exatamente a metade do que cheguei a ser).
4- Como você soube da existência dessa cirurgia? Alguém te sugeriu, você leu em revista? Como foi esse primeiro contato com a “chance de pesar menos”?
Soube em um congresso em que eu trabalhei, mas na época era caro e as técnicas não eram como hoje. Em 2008 cheguei a me inscrever pelo SUS e fui qualificada, porém decidi tentar sozinha mais uma vez e só acabei optando pela cirurgia em 2011. (nesse meio tempo, conheci o Papo de Gordo Podcast e ouvindo soube sobre a trajetória do Dudu).
5- Qual era seu peso antes da cirurgia? Qual era seu peso pós cirurgia? Qual seu peso hoje?
Meu peso normal era 70kg, nunca tinha passado dos 80kg. Após a gestação, alcancei os 3 dígitos e operei com absurdos 140 kg. Saí do hospital com 136kg. Hoje estou com 95kg e batalhando para alcançar os 75/70kg.
6- Como você avalia sua vida após ter passado pela gastroplastia? Faria novamente se necessário?
Minha vida mudou completamente. Quando eu digo isso, as pessoas não fazem ideia no quanto isso cria impacto em absolutamente tudo mesmo. Não é um modo de falar. Como eu já citei lá em cima, eu achava que devia ser grata às pessoas. Durante a preparação para a cirurgia, aprendi a ter consciência de mim e a fazer uma alimentação correta. Desta forma o pós-operatório no que se refere a comida foi moleza. O que foi complicado, e ainda está sendo é a minha relação com o mundo. Eu sou outra pessoa. Hoje eu não tolero mais nenhum tipo de abuso e batalho por tudo o que eu desejo. Não tenho mais nenhuma limitação, tenho energia, alegria e perspectiva de vida, planos para o futuro.
Às vezes eu penso que deveria ter feito antes, mas por outro lado, talvez se tivesse feito antes não tivesse sido pelos motivos corretos e talvez a minha mente não estivesse tão bem preparada.
Afinal eu fiz quando realmente não havia mais opção nem escapatória. Acho absurdo quem engorda 20/30 kg para passar por este procedimento com a ilusão de que é o caminho fácil.
Só é fácil para quem está preparado (e se mesmo assim a gente passa por alguns caminhos sombrios). Se você fizer pelos motivos errados, já terá fracassado antes de começar.
E é por isso que eu digo sim, eu faria tudo novamente sim.
7- Você fez a cirurgia antes ou depois de ter filhos? O que a gastroplastia te ajudou em relação à gestação, parto?
Fiz a cirurgia depois da maternidade. O desequilíbrio hormonal e o stress relacionado a ser mãe e principalmente a angústia de ficar em casa foi o que provocou minha obesidade.
Não me entenda mal, eu amo meu filho e foi ele que me fez crescer e ser quem eu sou, mas na época eu tive um quadro feio de depressão e uma série de problemas de ordem familiar e financeira. Resultado: joguei tudo na comida. Na época eu não tinha capacidade de perceber isso e ficava enfurecida com quem me apontasse os desiquilíbrios, só depois de muita reflexão é que fui capaz de identificar os pontos em que comecei a decair.
8- Qual idade de seu(s) filho(s)?
Konrad é o meu maior presente. Minha vida só vale algo por eu ter esse menino incrível. Ele fará 7 anos dia 8/6 (que é hoje, parabééééns, Konrad!!!!)
Fotos gentilmente cedidas pela entrevistada, veja mais aqui.
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Nossa, tem que ter coragem mesmo heim.
Mas se for necessário eu acho muito válido.
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muito boa a entrevista parabéns pra vc pois não é facil passar por tudo isso sucesso pra vc sempre.
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