O Conto da Mãeriposa

Camila Dias
@diascamila

Publicado em 03 de agosto de 2012

Em uma manhã chuvosa, fria e pós feriadão, a mãe levanta-se ao ser chamada pelos dois filhos, às 5h50 da manhã. Ninguém na casa precisa acordar ou levantar-se antes das 7 horas, mas, como dizem Deus ajuda quem cedo madruga. Não importa se a preguiça pós feriado era grande ou inexistente, o que os meninos queriam era sair da cama e correr pela casa gritando, brincando e sorrindo docemente, como sempre fazem!

Carinhosamente, a mãe trocou os pijamas dos meninos pelos seus respectivos uniformes, o mais velho em tom de verde bandeira e o mais novo em tom azul bebê. Teve o cuidado de vestir blusas quentes por baixo das insígnias escolares, para que seus tóraxes não pegassem frio e transformassem isso em um resfriado ou em uma gripe.

Após todos os lances de arruma, lava, troca, pendura para secar, adiciona na mochila, prepara lanche e finalmente colocar todos no carro e partir, o dia desta mãe estava completamente normal.

A mãe chegou no trabalho às 9 horas da manhã, soltou a bolsa em cima da mesa, ligou o servidor, ligou seu computador, bebeu água e sentou-se à sua mesa. Após carregar os e-mails, responder algumas mensagens, mandar 345 e-mails para caixa de spam, uma surpresa! No chão, entre seu pé e a lixeira, parada, grande, preta, assustadora, estava ela ali: uma mariposa!

Imediatamente, a mãe, que nessa hora estava desempenhando seu papel de profissional, virou a lixeira em cima da mariposa, encurralando-a. Abrindo a janela, pensava em como faria para colocar a mariposa para o lado de fora, sem a machucar. Ela também não queria ter contato com o inseto, já que por várias vezes, ouviu falar que as mariposas soltam um pózinho que transmite algo prejudicial, por isso, tentar segurar a mariposa entre a lixeira e uma pá de lixo, estava fora de questão. Lembrou também, nessas frações de segundos, que há uma superstição que diz que quando aparece uma mariposa preta é sinal de azar ou de algo ruim que está por vir.  Sem pestanejar, correu à procura de um frasco de inseticida no mais alto nível de pavor de sua vida.

Quando finalmente encontrou o tal veneno que tanto almejava segurar nas mãos, respirou aliviada e correu pra sua sala. Pedindo desculpas à mariposa, borrifou uma quantidade homérica do tal líquido nos vãos da lixeira e voltou a trabalhar normalmente.

Em meio de idas e vindas de sua sala até a sala onde está a impressora, de sua sala até o filtro de água, de sua sala até o banheiro, de sua AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!! Como foi que a mariposa gigante saiu da armadilha e está no meio da parede? Pior ainda, por que todo aquele veneno não matou essa grande besta? (isso já se passava das 10h da manhã).

Depois do berro histérico, a profissional, saiu atrás da vassoura e conseguiu enxotar a mariposa pra outra sala, pra ela ficar ali quietinha. Deixou a janela escancaradamente aberta, já que o inseticida não tinha terminado com o problema, quem sabe a querida mariposa não preferisse a vida e sairia voando pela janela afora, celebrando a vida, a liberdade, enfim…

A profissional volta ao seu posto, tentando não pensar na malvada mariposa, que inseto sem coração, aterrorizando uma pobre humana dessa maneira, em seu local de trabalho, isso não é nem um pouco elegante. Entre a atenção na tela do computador e o impulso da perna para se levantar e espiar a amiga voadora na outra sala, haviam mil batidas cardíacas e uma pergunta incessante na cabeça:

– Será que fugiu?

Fugiu? Como assim fugiu? A mariposa estava em propriedade alheia, não foi convidada a entrar, estava ali, ocupando o lugar da profissional, querendo lhe arrancar o emprego à força! Fugir? Fugir não é a ação correta, fugir não é a postura correta! Bendita mariposa, siga seu rumo, vá!

Com o cérebro completamente exaurido de tanto pensar na tal praga negra que ocupava a sala ao lado, a profissional notou que já estava na hora do almoço. Pronto! Maravilha! Agora o veneno que foi aplicado às 9h da manhã já deve ter dado efeito e o inset……… tá vivo! Tá vivo ainda! Tá vivo e tá ali na sala, espalhando a má sorte por todo escritório!

Chega, se o inseticida não funcionou, se a janela aberta até o outro lado da rua não funcionou, agora é a tua hora, dona mariposa! Prepare-se! E em um ato totalmente irracional e sem modos, a profissional, pegou a vassoura e partiu a pobre intrusa em mil pedaços, os jogou no vaso sanitário para que ela nunca mais voltasse.

A profissional deu as costas e foi-se embora pensando:

– Será que ela era mãe de filhotes pequenos? E agora?

 

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