Publicado em 28 de outubro de 2012
Diário pessoal – entrada nº 004
Em algum momento no início dos anos 1980, Amargosa, Bahia, Brasil
Já estou cansado de seguir pelas trilhas do espaço-tempo esse autômato enviado pelas balanças para alterar o passado. Minha máquina do tempo sequer está mais mostrando a data correta em que estou. Apenas assumo que esteja nos anos 1980 por ter encontrado indícios históricos dessa época, como um estranho som que repete “Não se reprima” e crianças brincando com um estranho mecanismo que parece uma vasilha d’água com botões.
Mas isso não importa. Tenho que me manter focado em minha missão. Afinal, se o autômato está nessa época, ele com certeza veio ameaças os fundadores de nossa civilização pós-revolução das balanças. Aqueles que todos em meu tempo amamos e consideramos nossos verdadeiros heróis (tudo bem que, indiretamente, também foram culpados pela própria revolução das balanças, mas, como dizem as palavras de seu Evangelho, “a culpa é da vida, essa vadia”).
Comecei minha busca pela bucólica cidade de Amargosa, onde morava na infância um desses grandes pensadores. Não encontrei traços do autômato. Inclusive, sequer encontrei traços do jovem que eu procurava. Invadi em segredo sua casa, mas tive que sair correndo porque fui atacado por um veado em seu quintal (creio que o animal era uma homenagem à masculinidade do menino, ou seja lá o que um veado significasse nessa época). Consegui apurar que o rapaz estava na verdade sendo acompanhado por uma junta médica em outra cidade porque todos os médicos da região, por algum motivo, queriam examinar suas partes pudendas.
Vou recalibrar minha máquina do tempo e ver se alcanço o autômato a tempo.
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Diário pessoal – entrada nº 005
Em algum momento no início dos anos 1980, Feira de Santana, Bahia, Brasil
Pela proximidade geográfica, caí na segunda possibilidade de ataque do autômato: a cidade onde morava a líder da nova sociedade pós-apocalíptica. Alguns historiadores afirmam que ela era a líder por conta de arquivos históricos que mostram que ela mandava em todos os outros, especialmente em seu marido, já que sempre estava brigando com o mesmo e exigindo que ele respeitasse um deus-gato o qual ela louvava e seguia de forma psicótica. Mas isso deve ser algum erro de apuração, porque, até onde pude ler nos relatos históricos, ela não era doida.
Observei, escondido, a jovem menina em uma aula de balé, onde pude perceber in loco como era respeitada por todos desde a mais tenra infância, já que os meninos estavam brigando para decidir quem ia fazer par com ela no Lago dos Cisnes. Por um momento, tive a impressão de que eles brigavam para decidir quem não ia dançar com ela, mas com certeza foi um equívoco de minha parte.
O fato é que o autômato também não estava aqui e, agora, vou novamente recalibrar a máquina do tempo.
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Diário pessoal – entrada nº 006
Em algum momento no início dos anos 1980, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil
Estou começando a ficar preocupado. Já visitei o terceiro salvador da humanidade e ainda não avistei o autômato. Os traços do fluxo de seu salto temporal me levaram a esse momento histórico, mas não consigo localizá-lo geograficamente. Eu tinha esperança de que tivesse vindo atacar o criador da Grande Wikipédia Mirador Internacional, que conseguiu escrever todo esse grande compêndio de informação e cultura em apenas dez minutos (o que demonstra sua grande inteligência, embora alguns historiadores revisionistas afirmem ridiculamente que tudo não passou de uma cópia de textos previamente escritos – infiéis!).
O problema é que eu fiquei a tarde inteira acompanhando o pequeno gênio e o vi comendo, comendo, comendo… Na verdade, ele não parou de comer um segundo sequer. Ele terminava um pão doce e sua mãe o entregava uma fatia de bolo. Quando o bolo acabava, ele pegava alguns salgadinhos. E isso seguiu até o final da tarde, sem parar um minuto sequer. Será que é esse acúmulo de alimentos em seu estômago que explicam os relatos sobre suas atividades intestinais na idade adulta? Infelizmente, não posso estudar esse caso porque preciso me manter concentrado em minha missão.
Vou fazer a última recalibragem na máquina do tempo. O autômato tem que estar em minha próxima parada!
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Diário pessoal – entrada nº 007
Em algum momento no início dos anos 1980, São Paulo, São Paulo, Brasil
Essa foi a missão mais perigosa até agora. Não apenas eu tinha certeza que encontraria o autômato e, fatalmente, teria que lutar com ele pela primeira vez, mas também encontraria aquele que inspirou os exércitos que protegeram nossa civilização. Eu estava tenso porque os relatos históricos falam que esse jovem em particular era muito feroz (tanto que, segundo as lendas, até as cobras tinha medo dele, que as usava como gravata).
O registro do salto temporal do autômato estava cada vez mais forte, mas nada podia me preparar para o que vi ao virar uma esquina. O robô assassino do futuro estava quebrado em vários pedaços, totalmente destruído e imprestável. Ao seu lado, estava um rapaz bem jovem com visual que, se não me engano, era chamado nessa época de “punk”. Aproximei-me o mais que pude e só consegui ouvir uma estranha frase: “Sorte sua que eu sou um sujeito zen… zen um pingo de paciência!”. Saí de perto rapidinho porque fiquei com um medo irracional daquele menino.
O importante é que o autômato foi destruído e o perigo passou. Eu fui um tanto inútil nessa história toda, mas o perigo passou.
Eu acho…
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Continua amanhã com: Dias de um futuro esquecido
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