Consertando aviões

Eduardo Sales Filho
@eduardo_sales

Publicado em 28 de novembro de 2016

Carlos trabalhou no aeroporto de Guarulhos por anos, até que a crise (sempre ela) fez com que boa parte da sua equipe fosse demitida. Ele estava entre as 90 pessoas que perderam seus empregos. Depois de passar um tempo enviando currículos, decidiu se tornar um motorista da Uber. Dirige pelas ruas de São Paulo há cerca de cinco meses e diz que está ganhando mais agora do que quando era funcionário da Gru Airports.

Ele começa a trabalhar as cinco da manhã todo dia e vai pra casa por volta das 14h para almoçar e descansar um pouco antes de seguir para a aula. turbina de aviaoCarlos está fazendo curso técnico de mecânico de aeronaves. Seu plano é trabalhar para alguma empresa aérea depois de formado.

O curso dura 3,5 anos e contempla o estudo de diferentes motores, bem como de toda a parte elétrica e eletrônica dos aviões. Ele já passou pelo módulo dos motores e está agora estudando aviônica (algo que eu não entendi direito do que se trata apesar dele ter explicado).

Carlos havia começado seu curso bem antes de ser demitido do aeroporto. Ele queria melhorar de vida e sabia que, para isso, precisaria mudar algumas coisas e sair da sua zona de conforto. Seu maior medo quando perdeu o emprego foi não conseguir mais pagar as mensalidades e ter de abandonar os estudos, mas o trabalho como motorista da Uber o tranquilizou.

Conversamos muito sobre como é trabalhar em aeroportos e aproveitei para fazer vários perguntas e tirar diversas dúvidas que sempre tive. Descobri, por exemplo, que muitas comissárias de bordo ficam dançando e se divertindo dentro da aeronave antes dos passageiros chegarem. A partir deste ponto elas entram no modo operacional com aquela cara séria de sempre.

Soube também que os funcionários dos aeroportos passam por uma rigorosa fiscalização de segurança antes de começar a trabalhar. Ele me disse inclusive que muitos morrem de medo de fazer alguma bobagem porque quem comanda tudo é a Polícia Federal e ninguém quer arrumar problemas com a Polícia Federal.

Obviamente questionei sobre a fama dos romances entre pilotos e comissárias de bordo. Ele disse que isso acontece sim, mas que não é com a frequência que a gente costuma imaginar. Comentou inclusive que o uniforme de comandante parece ter um grande apelo sobre as mulheres porque já presenciou vários “tiozinhos” de meia idade, barrigudos e com a cabeça completamente branca, saindo do trabalho bem acompanhados.

No finalzinho da corrida começamos a conversar sobre os perigos que os motoristas correm depois que a Uber passou a aceitar pagamento em dinheiro. Essa é uma preocupação recorrente entre os motoristas com quem andei nos últimos dois meses, diga-se de passagem. Entendo os motivos da empresa do ponto de vista do marketing, mas acho que ela deveria se esforçar um pouco mais para garantir a segurança dos seus parceiros.

Carlos me deixou no escritório e seguiu o seu caminho. Ele estava empolgado porque iria aprender na aula de hoje como fazer a manutenção de um aparelho aí que eu nem mesmo consigo pronunciar o nome…

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Uma resposta para “Consertando aviões”

  1. Roberto disse:

    Pego UBER com muita frequência, comissários, engenheiros, analistas, aposentados, até um servente de pedreiro, sempre com boas histórias ou comentários, com uma coisa em comum, o UBER “salvou” suas vidas de várias formas.

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