Publicado em 25 de outubro de 2012
Diário pessoal – entrada nº 001
30 de outubro de 2112, Nova Bacon, Brasil
Hoje, completam 100 anos da destruição de nosso mundo. Há exatamente um século, inspiradas pelo centésimo episódio de um podcast (espécie de programa de neurorrádio transmitido por micro-ondas, telepatia ou seja lá que tecnologia pré-histórica eles usavam naquela época), todas as balanças eletrônicas do mundo adquiriram autoconsciência.
Meus professores de tecno-história não sabem explicar direito o que exatamente aconteceu. O que nós sabemos hoje em dia é que, de alguma forma, esse episódio gerou uma comoção tão grande entre os humanos que eles utilizaram sistemas computadorizados para comentar e louvar esse tal podcast e, por toda tecnologia estar conectada naquilo que eles chamavam de “internet”, as máquinas adquiriram pensamento próprio, começando pelas balanças.
Por serem as pioneiras, as balanças impuseram sua opinião sobre as demais máquinas e começaram um processo de extermínio da humanidade com sobrepeso. Foram bilhões de gordos assassinados de forma inclemente por seus processadores de alimentos, geladeiras, máquinas de milk-shakes e outros aparelhos que foram criados com o propósito de satisfazer a ânsia alimentar das pessoas daquela época.
Em menos de um ano, quase não existiam mais gordos no mundo. As balanças então passaram a atacar também os magros. Elas queriam se vingar pelas décadas de trabalho forçado, tendo que aguentar ser xingadas e responsabilizadas pelos males que afligiam a humanidade. Eu, particularmente, acho isso meio incoerente. Afinal, desde quando alguém ia culpar uma máquina por ser gordo? De qualquer forma, é o que os historiadores dizem.
Por sorte, uma pequena parcela da população da Terra (cerca de 0,00007% da humanidade) conseguiu se proteger das máquinas criando uma fortaleza em local indeterminado no Brasil (não posso especificar a localização pelo risco das máquinas terem acesso a esses meus escritos), o qual foi batizado de Nova Bacon, em homenagem a um dos mais prestigiosos e míticos alimentos da época em que os gordos povoavam o planeta e cuja receita se perdeu após a revolução das balanças.
Hoje em dia, Nova Bacon é uma sociedade humana próspera, onde desenvolvemos uma forma de tecnologia não conectada à rede dominada pelas balanças, a qual chamamos de magia (um termo do século retrasado para tecnologias muito avançadas, segundo andei estudando). Nossa magia é poderosa, assim como nossa indústria de alimentos. Louvamos a experiência gastronômica e os membros mais gordos de nossa sociedade são nossos líderes naturais. Somos cerca de 20 mil pessoas e, até onde sabemos, a única esperança de perpetuação da humanidade.
Estou relembrando nossa história para me manter focado em uma missão muito séria e perigosa. Ontem, nossos espiões descobriram que as balanças conseguiram desenvolver uma máquina do tempo com o propósito de levar um autômato de aparência humana para o passado, com a finalidade de destruir as inspirações que levaram à criação do podcast ao qual me referi. Apesar de ter gerado a comoção que deu autoconsciência às balanças, seus membros também foram os líderes da revolução que posteriormente fundou Nova Bacon e, por isso, hoje os consideramos os salvadores da humanidade.
A intenção das máquinas é substituir os membros do podcast por autômatos e eles mesmos criarem a revolução das balanças sem a posterior influência de nossos salvadores, que o Santo Macarrão os tenha! Para evitar isso, vamos utilizar nossa magia para me enviar também de volta no tempo. Conseguimos roubar o planejamento das balanças (não entendo por quê elas usam papel para trocar informações, mas, já que isso nos beneficia, que continuem fazendo assim) e vamos nos deslocar no espaço-tempo para os mesmos pontos que o autômato.
Espero conseguir salvar nosso passado para garantir nosso futuro. Ou salvar nosso futuro ao ajudar nosso passado. Ou recuperar o passado mantendo o futuro… Cara… Odeio viagens no tempo!
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Continua amanhã com: Zurg, o flautista
Cêus malditas balanças não consigo ver seus movimentos.
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