Publicado em 26 de outubro de 2012
Diário pessoal – entrada nº 002
32.759 a.C., em algum lugar nos arredores da Alemanha
Estou na Pré-História. Lugar meio estranho esse aqui. Ainda não vi nenhum dinossauro, mas estou preparado para fugir caso algum apareça. Felizmente, apesar da derrocada da humanidade, sobraram algumas revistas em quadrinhos do Piteco e vídeos dos Fintlstones, o que me permitiu ficar preparado para qualquer eventual confronto com esses répteis gigantes. Infelizmente, não tive a sorte de encontrar um caçador corajoso que me ajudasse a experimentar uma costeleta de brontossauro, sempre tive curiosidade para saber se isso é realmente tão bom quanto dizem.
Minha missão nesse tempo remoto era encontrar os primeiros antepassados dos futuros criadores do Papo de Gordo, cujas atividades ficaram registradas na memória genética de quase todos os gordos do planeta Terra e permitiram que fossem citados de forma precisa em episódios desse podcast. A memória humana é muito curiosa, especialmente se considerarmos que estou no meio de neandertais e não de Homo sapiens. Será que os chamados “gordos ogros” (nunca entendi esse termo técnico do século XXI) são descendentes desse ramo da evolução humana? Tenho que lembrar de perguntar isso para nossos cientistas quando eu voltar à minha época.
De qualquer forma, não foi difícil encontrar o grupo de neandertais que eu estava procurando. Eles se diferenciavam dos demais por se reunirem diante de uma espécie de pedra retangular para ouvir seu líder falar. Por sorte, eu contava com um tradutor universal, uma das poucas tecnologias pré-revolução das balanças que não foi contaminada pela autoconsciência destrutiva. É uma caixinha estranha com tela holográfica e uma suave voz feminina, que se apresenta como Siri Versão 784. Curiosamente, apesar de traduzir até grunhidos pré-históricos, não sabe falar português direito, mas nada é perfeito.
Fiquei escondido observando com atenção seus hábitos. Depois que o neandertal chefe pediu para que todos da tribo se unissem, todos os demais membros do grupo começaram a falar ao mesmo tempo, em um ritual estranho. Quando terminaram o embate de palavras, gritos e risos, os que estavam mais distantes começaram a gritar “First! First!” (segundo a tradução da Siri que, como expliquei, não fala português direito e às vezes traduz direto para o inglês).
Mas o que realmente chamou minha atenção foi um membro da tribo que estava sozinho num canto. Descobri que seu nome era Zurg. Ele não largava o que parecia ser uma flauta feita de osso e olhava melancólico para ela. Parecia que estava perdido em seus pensamentos, como se a flauta gerasse nele ao mesmo tempo prazer e dor. Mas minha missão aqui não era filosofar, e sim proteger esses neandertais do autômato enviado pelas balanças para destruí-los.
Por sorte, não precisei me esforçar muito em minha primeira missão. Ao cair da tarde, vi uma estranha figura correndo em direção à tribo e logo percebi que era o autômato. Ele parecia um mister universo austríaco, o que fazia com que se confundisse com os neandertais, mas consegui perceber que era o autômato porque estava todo raspadinho. Todo mesmo, afinal a viagem no tempo faz as pessoas chegarem sem roupas nos lugares (sim, isso é muito incômodo, apesar de um tanto refrescante).
Zurg, o flautista, percebeu a aproximação do estranho visitante e, apesar de ter se assustado num primeiro momento, logo retirou sua flauta de algum lugar que não consegui precisar (parecia ser dos bolso de trás da calça, mas ele não tinha bolso atrás e muito menos calça) e começou a entoar uma música que não sei como descrever. Parecia um guaxinim sendo sacrificado aos deuses. Talvez seja o que os historiadores chamam de “axé music”.
O autômato ficou desconcertado e começou a tremer. Zurg continuou tocando cada vez mais forte sua flauta até que parou e começou a falar. Parece que ele falou uma piada, mas não consegui captar muito bem porque a tradução deve ter falhado em alguns momentos. A Siri traduziu algo como “O que é vermelho e tem cor de azul? O azul”. De qualquer forma, centenas de Archaboilus musicus surgiram de forma misteriosa e começaram a cantar no mesmo instante, o que explodiu os sistemas auriculares do autômato, que rapidamente fez um salto temporal para fugir.
Agora, estou analisando os traços do fluxo espaço-temporal para confirmar qual será minha próxima parada. Quanto a Zurg, ele foi recebido como herói na tribo e convidado pelo líder para tocar sua flauta diante de todos. Pena que o espancaram após duas ou três piadas.
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Continua amanhã com: A moléstia da cabra
RT @papodegordo: O emagrecedor do futuro – parte 2: Zurg, o flautista – http://t.co/9C3dhYKX
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[…] passado. Na verdade, eu não precisei fazer absolutamente nada, já que ele foi vilipendiado por um homem das cavernas, um cuidador de cabras e, finalmente, por um moleque punk. De qualquer forma, tecnicamente falando, […]