Publicado em 27 de outubro de 2012
Diário pessoal – entrada nº 003
15 de dezembro de algum ano que não consigo precisar, Peloponeso, Grécia
Minha máquina do tempo parece estar com algum defeito. Eu segui as trilhas espaço-temporais deixadas pelo autômato enviado pelas balanças para modificar o passado, mas, apesar de ter certeza que estou no mesmo momento histórico que ele, não consigo ter certeza de em qual ano estou.
Tentando entender exatamente onde eu me encontrava, conversei com alguns moradores locais. Eles falavam grego, o que me fez concluir que estava na Grécia. Fiquei muito feliz quando descobri que estava exatamente nas terras da família mais famosa de todos os tempos, responsáveis pelas maiores invenções da humanidade e que davam nome a centenas de universidades ao redor do mundo antes da revolução das balanças: Os Petraskis!
Fiquei feliz como uma criança feliz (muito mais do que uma criança triste ou um velho feliz). Afinal, tenho 8% de sangue Petraskis, o que talvez explique meu gosto por tomates (afinal, eles eram grandes produtores de tomate-grego, o melhor tomate do mundo até que os italianos roubaram suas sementes e passaram a chamá-lo de “ingrediente de pizza”, malditos italianos).
Avistando ao longe, consegui encontrar um membro dessa grandiosa família cuidando de cabras. Alguns historiadores afirmam que eles tinham predileção por ovelhas, que seriam mais fofinhas na região glútea graças à lã, mas consegui comprovar in loco que a Grande Wikipédia Mirador Internacional, nosso principal livro de referência para tudo, estava errada: eles criavam apenas cabras. E de um jeito um tanto… peculiar. Ainda bem que a criação de cabras no meu tempo não envolve o tipo de manipulação que eu observei.
Durante todo o dia, observei meu parente distante em sua incansável tarefa de cuidar das cabras. De vez em quando, um grego barbudo aparecia e dava uns tapas na nuca dele (creio que seja um dos famigerados Petruskus, o ramo malvado da família Petraskis). Eu fiquei cada vez mais preocupado, pois o autômato não deveria estar longe e, com certeza, seu alvo era aquele imberbe jovem caprinocultor.
Não me contive e me aproximei do simpático Petraskis. Sei que eu deveria interferir o mínimo no passado para evitar problemas no futuro. Como a viagem no tempo era uma coisa muito nova, tive que assistir filmes históricos de treinamento como “De volta para o futuro” e “Looper”, que me dão pesadelos até hoje. Morro de medo de proceder com um intercurso carnal em minha mãe sem querer e nem consigo chegar perto de uma faca de passar manteiga sem ficar apavorado com o risco de perder os braços!
O impúbere grego se assustou num primeiro momento, mas, ao perceber que eu era inofensivo, ofereceu sua melhor cabra para eu fazer um tal άγριοζώωνσεξ, que a Siri Versão 784 não foi capaz de traduzir. Pensei em anotar para descobrir depois do que se tratava, mas achei mais prudente simplesmente rejeitar e esquecer essa palavra para sempre.
Conversamos bastante sobre a vida, o universo e tudo mais. Aprendi bastante sobre como a participação dos Petraskis nas grandes invenções da humanidade, como o botão de camisa, a portinhola da ceroula e o processamento industrializado do cacau. Tudo transcorria bem quando, curiosamente, surgiu uma ovelha! Meu novo amigo olhou de forma lânguida para aquele animal e correu desesperadamente em sua direção, seguindo o mesmo procedimento que utilizava com as cabras, mas de forma muito mais, digamos assim, intensa. Entendi por quê eles não criam ovelhas: elas não sobreviveriam muito tempo nas mãos dos Petraskis!
De repente, a ovelha começou a tremer e sua lã caiu. Então, percebi que se tratava do autômano, provavelmente fantasiado de ovelha por ter pego a informação errada da Wikipédia. Quem diria que um erro da Wikipédia poderia prejudicar alguém assim… O importante é que ele, depois de ter sofrido bastante nas mãos do altivo Petraskis, saiu correndo com as pernas abertas (creio que com um mal funcionamento em seu escapamento) e ativou um salto temporal. Tive, inclusive, a impressão de que uma lágrima de óleo escorria de seus olhos.
A mim, restou analisar mais uma vez os traços do fluxo espaço-temporal e definir minha próxima parada. Quanto ao tranquilo Petraskis, ele deitou à sombra de um tomateiro feliz da vida com sua investida ovina. Não é à toa que essa família será um modelo pelos séculos vindouros… Ou não.
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