Tem uma gorda no teatro!

Lucio Luiz
@lucioluiz

Publicado em 23 de setembro de 2009

Gordo de Raiz, por Lucio Luiz

Gorda, a peça: Elenco (foto: divulgação/Rodrigo Castro)Para de comer tanto, gordo safado!

Esse era o mantra do dramaturgo norte-americano Neil Labute quando resolveu perder uns quilinhos. Com essa frase não muito simpática, ele até conseguiu emagrecer um pouco, mas logo recuperou sua massa corpórea original.

Mas não é do peso dele que vamos falar por aqui. O que Lebute tem de especial e que merece nossa atenção é que, a partir de suas próprias vivências como um gordo numa sociedade que se acha “magra”, criou uma peça de teatro que provavelmente é uma das melhores representações dos gordos nos palcos: “Gorda”!

Normalmente os gordos aparecem em peças de teatro para fazer rir ou chorar. Das duas uma, ou é um humorista (ou alvo do humorista), ou é um sofredor. Dificilmente se consegue levar um gordo para os palcos (ou para o cinema, para os livros, para a TV…) de uma maneira que o mostre sem ser unidimensional (e, cá entre nós, não há nada menos unidimensional que um gordinho, com e sem trocadilhos).

Já falamos um pouco da peça na matéria que saiu hoje de manhã no Papo de Gordo. Para quem está com preguiça de clicar no link, aqui vai um resuminho: Um executivo bem-sucedido se apaixona por uma gorda, mas sofre preconceito dos seus amigos por conta disso.

Eu fui assistir o último ensaio geral de “Gorda”, domingo passado. Na prática, nem foi um ensaio, já que os atores estavam afinadíssimos e tudo transcorreu perfeitamente no palco. Por sinal, vale ainda o registro de que foi a primeira vez que eu vi uma peça com uma lista de “Apoio” e outra de “Apoio gastronômico”. Já me animou por aí.

Bom… Esse texto não é pizza, mas ainda assim é melhor ir por partes.

Gorda, a peça: Fabiana Karla (foto: divulgação/Rodrigo Castro)Em primeiro lugar, o que mais chamava a atenção na peça era o fato de ser protagonizada por Fabiana Karla, atriz que é mais conhecida pelo grande público por seus personagens no Zorra Total (especialmente a Dra. Lorca, aquela nutricionista que acha salada uma bomba calória e incentiva seus pacientes a comerem bolo de chocolate… a nutricionista dos sonhos de qualquer gordo de raiz).

Só que a peça não é uma comédia rasgada. É, antes de tudo, um drama. OK, pode ser chamado de comédia dramática, mas é importante entender que a história não é apenas pra fazer rir. E vale ainda dizer que Fabiana vai muito bem no papel, especialmente se considerarmos que grande parte das cenas cômicas não são realizadas por ela, apesar de sua personagem ser o alvo da maioria dos risos.

E é esse o ponto que mais me chamou a atenção. A grande maioria das cenas humorísticas (e a quase totalidade das gargalhadas do público) vinham exatamente das piadas que eram feitas sobre Helena, a personagem de Fabiana Karla.

A personagem, em si, é uma pessoa divertida e bem humorada, de bem com seu corpo, e faz o público rir em alguns momentos com suas tiradas. Contudo, não faz o tipo de “gordinha brincalhona” o tempo inteiro. Em suma, é uma pessoa normal, que ri de si mesma e também é séria na medida certa. Honestamente, um dos gordos mais verossímeis que eu já vi em qualquer obra de ficção.

Acredito que o autor quis mostrar exatamente isso: As pessoas riem mais da “gordinha” do que com a “gordinha”. E arrisco dizer que praticamente ninguém na plateia se tocou da carga de preconceito que esses risos acompanhavam.

É óbvio que eu também gargalhei das piadas sobre a “porca gorda” (título original em inglês da peça, “Fat Pig”) e gargalharia de novo ao assistir a peça uma segunda vez. Mas uma coisa é apenas rir das piadas sobre ela e outra é rir da situação e entender isso no contexto que o autor quis demonstrar.

Nada é “de graça” na peça. Um dos principais momentos, por exemplo, é quando o amigo do protagonista, que é quem faz o maior número de piadas sobre Helena, começa a falar da gordura de sua mãe de forma altamente pejorativa. O público ri sem parar até que, num ritmo perfeito, a história que ele conta começa a tomar contornos de drama e a plateia chega perto de chorar.

Falar mais do que isso seria estragar a peça. Estou me segurando para não comentar o final perfeito de “Gorda”. Só me resta dizer que a peça foi construída de uma maneira que os espectadores, ao menos os que possuem um mínimo de sensibilidade, saem do teatro revendo seus conceitos e repensando até o motivo de suas risadas. Não se arrependendo dos risos, claro, pois seria hipocrisia, mas entendendo um pouco melhor os preconceitos pelos quais os gordos passam e não são reconhecidos.

No meu caso, depois da peça fui até um restaurante do shopping e detonei um nhoque ao molho de queijo seguido por uma fatia de torta alemã. Foi minha maneira de homenagear a peça e seus atores (por sinal, foi também uma ótima desculpa pra encher a pança às 10 da noite).

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7 respostas para “Tem uma gorda no teatro!”

  1. Paulo Patux disse:

    Teatro bem feito é um prato cheio!!

    E saber que além de comédia simples, como é a proposta do Zorra Total, a Fabiana é uma atriz que dá conta de outras vertentes da arte de atuar.

    A pergunta é: será que BH terá o prazer da visita de ver a peça?!

    Tomara!!

  2. Fábio Uliana disse:

    Sempre é bom saber que existe mais uma opção de diversão com uma boa dose de reflexão no final.
    A Fabiana sempre me pareceu daqueles talentos presos no formato do Zorra Total, que não é ruim (na sua totalidade), mas já está bem cansado, uma vez que deve ser o formato usado desde o 1º programa humorístico da Tv no país.
    No mais, aguardo a oportunidade dessa peça chegar aqui nos confins do país, já que, apesar de ser a capital de um estado do sudeste, Vitória/ES é um canto esquecido pelo Brasil!

  3. Tamara Ka disse:

    Bem. As duas melhores atrizes do Brasil: Teuda Bara do grupo Galpão de BH e Simone Mazzer do Grupo Galpão do Rio de Janeiro. Maira: vê se você consegue dar uma olhada nelas. Elas são o máximo! E bem gordas.
    A Teuda, que está no último filme do Eduardo Coutinho, também tem um papel genial no filme Maravilhoso "O contador de histórias". A forma como essas duas lidam com seu corpo e como o colocam em cena é impressionante!
    Um beijo!

  4. Andréa disse:

    Fui sabado passado assistir a peça com minha mãe,ADOREI!!!!
    Como estudante de psicologia já vi varios angulos, mas o que me tocou mais foi o fato de me fazer rever os meus conceitos, as motivações dos personagens e pensar se vale a pena não viver a própria vida sem se preocupar com o que os outros acham.

  5. Silvana disse:

    Não ri em nenhum momento. Não consegui achar graça. Vou logo avisando que sou magra e tenho senso de humor. Mas achei muito deprimente, constrangedor… as pessoas rindo das grosserias e ofensas que são ditas sobre os gordos. Ridicularizam demais os gordos… ah detestei!

  6. Jacqueline disse:

    Bom eu fui assistir a peça mês passado e achei o maximo em todos os sentidos, eu sou gorda e gostei, claro que tem algumas coisas que eu mudaria, como excesso de palavrões sem nessecidade (mas isso eu que penso) e algumas colocações como Porca gorda eu tbm não achei graça, mas o texto os atores gostei muito, chorei de rir de emoção de pena, pena de uma sociedade tão mediocre, miseravel e superficial, eu sou como helena sou gorda, sou feliz, estou em paz comigo, encontrei um marido que me aceita (não é como o banana da peça) enfim, tem que abrir os olhos pra entender a peça, como o ator disse em uma entrevista a peça se chama Gorda mais poderia se chamar gay, judeu, portugues, pobre… enfim. adorei sua matéria.

  7. João Carlos disse:

    Nesta última sexta feira assiste no Teatro Coliseu em Santos a peça teatral "GORDA". Quero deixar o meu protesto, achei totalmente preconceituosa e com um final sem qualquer razão. No momento que o Caco, amigo do personagem Toni, descreve sua mãe, achei muito desagradável, principalmente por tratar-se de mãe e num tom tão nojento, foram infelizes neste momento !! Pensei que a peça fosse passar uma mensagem otimista, e que o personagem Toni, superasse sua vergonha, mas mostrou que todo gordo, homossexual, idosos, dentre outros diferentes…. não possuem chances, tanto na socialização, como no amor.

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