Publicado em 23 de janeiro de 2010
Então, no dia 11 fui para o meu algoz: chegou o dia de entrar na faca. A partir desse momento, todos os meus prazeres alimentares e maus costumes iriam passar um bom tempo de castigo.
Não tinha feito a famosa “despedida da comida” da qual todos falam. Até parece que eu estava obedecendo as ordens do médico, mas a real é que ainda não tinha caído a ficha.
Tive um fim de ano muito conturbado, muitos afazeres no trabalho e na faculdade, e nem vi dezembro chegar. Só fui me tocar quando faltava apenas uma semana e ainda tinha coisas para resolver antes da cirurgia.
O único momento em que realmente comi pensando no tempo que ficaria sem aquele prazer foi na quarta-feira anterior, dois dias antes da cirurgia. Na quinta eu já teria que começar a dieta líquida para “limpar” o estômago. Então, nessa noite fui no melhor rodízio de pizza da cidade e comi de tudo, sem culpa. Mas confesso: poderia ter comido muito mais. E teria feito isso se soubesse do perrengue que ia passar.
Na sexta-feira, acordei 4 e meia da manhã – a cirurgia estava marcada para as 7h e eu deveria chegar uma hora antes. Esse com certeza foi o momento de maior estresse de todo o procedimento, pois eu cheguei, sim, às 6 da manhã, mas o médico atrasou mais de uma hora pra chegar e ainda teria que fazer outra operação antes da minha.
Outra coisa que me estressou foi que não pudemos esperar no quarto, mesmo esse sendo um dos hospitais mais caros da cidade. Não havia quartos disponíveis naquele momento e o meu estaria vago apenas depois da cirurgia. Ou seja: fiquei mais de três horas esperando numa desconfortável cadeira no hall. Já era mais de 9 da manhã quando fui chamado e encaminhado direto para o centro cirúrgico. Confesso que me assustei com a rapidez e objetividade com que me trataram, pois numa hora dessas eu queria é ser enrolado e paparicado, hehe. Mas o que aconteceu é que fui direto para uma salinha, sem nem conseguir ver pra onde encaminharam minha mãe e irmã que estavam comigo. Só sei que já botei aquela camisolinha que deixa a bunda de fora e acompanhei o enfermeiro até a sala de cirurgia onde tinha uma maca me esperando com um aparelho monstruoso em cima. Sério, é como se fosse um monstro de metal, com vários olhos e garras me fitando.
Desencanei da aparelhagem e fiquei querendo saber quem era aquele batalhão de gente na sala – nenhum deles era meu médico. Deu pra perceber que ali estavam médicos, enfermeiros e anestesistas. Apenas uns dois falaram comigo, provavelmente anestesistas, explicando (pouco, por sinal) quais seriam os procedimentos. Lembro de ter tomado alguma injeção que era pra alguma coisa e outra que me disseram que iria me sedar totalmente. Foi no braço, indolor, quase nem senti.
Na verdade, não senti mais nada após isso. Só me lembro de acordar num lugar que parecia uma “sala de espera pra fodidos”, onde eu, que já não conseguia acordar direito pela anestesia, ainda estava incomodado por alguns pacientes ao lado reclamando de dor. Eu não sentia dor, apenas um desconforto que foi passando aos poucos enquanto retomava consciência, afinal, estava VIVO!! E era só isso que me importava naquele momento.
Continua semana que vem.
Pablo Muniz, ou melhor, Iskilo666, é estudante de Economia, servidor público e podcaster por sadomasoquismo. Tem sonho de ser empresário e é fissurado em tudo ligado em tecnologia, midias digitais, games e cultura nerd em geral. É coadministrador do blog Baú Pirata e participante do podcast Piratacast, onde discutem assuntos o mais variados possíveis. |
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