Publicado em 20 de fevereiro de 2010
– Isso não é nome de arma… daquelas de filmes de traficantes e tal?
Uma conversa começada com essa pergunta não parece ter muito futuro, mas essa em particular deu origem a um bom almoço na companhia de um amigo. Bastou sugerir degustarmos um uzzi, no Restaurante Halim, no Paraíso (bairro de S. Paulo).
– Arma? Não… bom… vai ver é, também… mas, estou falando de um salgado árabe, do tipo com massa folhada, recheio de arroz e carneiro com aquela amêndoa moída…
– Arroz marroquino?
– Isso.
Eu não sou do tipo de gente que lembra muito de nomes (para não falar em datas e outras coisas simples de se decorar), por isso não fazia idéia de que o tal do uzzi era na verdade recheado com uma forma de arroz marroquino. Quem nunca foi a um restaurante árabe de verdade não deve ter comido esse acompanhamento que na verdade é bem comum, serve-se com muitos pratos como os charutinhos de uva ou outra erva ou mesmo costelas de cordeiro assado – ah, vale a ressalva que restaurante fast food de comida “tipicamente árabe” não conta.
– É esse arroz, molhadinho, mas o charme todo é que ele é assado dentro da massa folhada que fica crocante…
– Cara, eu corto um braço se isso for comida típica… e não é “comida árabe”, é “sírio-libanesa”, cara pálida…
– Bom, você é o descendente de árabe, eu tenho meia dúzia de alemães e lituanos e só…
Claro, ele não gostou muito da minha ironia, mas fico imaginando o que esse meu amigo cortaria fora se fosse comer um kibe que fosse no tal do fast food “tipicamente árabe”.
Para falar a verdade, sair para comer com um amigo descendente de qualquer cozinha especializada do mundo é sempre difícil, tem gente que não aceita uma mudança nas receitas… por outro lado, alguns fazem questão de destratar a cultura das suas raízes ou da sua família por serem “ortodoxas” demais; mas quanto a isso, só terapia à lá Adão Iturrusgarai para resolver. Esse meu amigo pareceu ser sempre da primeira estirpe, mas ainda assim precisa de uma terapia como a segunda. Haja vista que a frase mais repetida naquele dia foi:
– Uzzi, pra mim, é aquela metralhadora e…
Mas, ainda assim, tive sorte de que por mais radical que ele fosse, estava disposto a experimentar a tal novidade, que para mim era “típica”. Assim, ele conheceria algo novo e ainda que não fosse “original”, degustaria algo muito bom e poderia acrescentar uma nova iguaria na sua lista de favoritas.
– Bom, a gente vai lá e você me diz o que acha, certo?
– Beleza… mas corto um braço…
Ao chegar ao balcão do restaurante, um dos rapazinhos atarantados que servem por lá, perguntou o que queríamos e – talvez ele já me conheça ou tenha refletido sobre o tamanho da minha barriga:
– Cê vai de uzzi, né senhô?
– Isso, dois… e aquela pimentinha, por favor.
Não queria dar a impressão que ia comer dois bolinhos que tem quase a dimensão de uma manga média:
– Um pro meu amigo experimentar…
– Taí, senhô…
Ao colocar o bolinho diante do meu amigo, ele analisou tridimensionalmente o objeto e concluiu:
– Nunca vi isso!
– Mas de certo não é uma submetralhadora ou algo que o valha…
Enquanto às mordidas e às olhadelas, no recheio do salgado e investigações da textura da massa folhada, o mesmo balconista explicou que aquela era uma receita de família dos donos do restaurante, só ali se vendia, só existia no Halim.
– Satisfeito? É típico, mas não é típico de todo mundo…
– Pelo menos não vou ter que cortar meu braço… isso aqui é muito bom!
– Ótimo, então mete a mão na carteira e paga o meu, estou sem grana…
Visite o Restaurante Halim, R. Dr. Rafael de Barros, 56 – Paraíso – São Paulo – SP
Tel: (11) 3884-8502
Caralho, mano agora eu quero isso D:
Vou chegar em algum restaurante e pedir um Uzzi só para ver o que eles vao falar
Hummmm, eu AMO comida árabe. Já fui em alguns restaurantes típicos (desses NON fast food). Mas, confesso que eu ainda não havia aprendido o nome Uzzi.. vou "uzzar" na minha próxima oportunidade.
Adorei o texto, Conrad! Parabéns!
Abração
P.S. Max ainda quer te conhecer!
Oi meu nome é Elizabeth e achei este blog muito interesante, sem falar que é gostoso de ler, engraçado e hilário, eu estou com uns quilinhos me incomodando, tipo "20" isso tá me deixando chateada, muita gente gosta de fazer piadas comigo principalmente família, eu e minhas e duas amigas que são iguais a mim no peso estamos em constante luta contra ele, mas está difícil. Espero que este blog nos ajude, orientando sobre nutrição e levantar nossa autoestima. obg.
Parabéns, pelo texto!!! Mais um item pra lista de coisas pra experimentar quando estiver em São Paulo! :D
Adorei, Conrad! Vou dar um pulinho lá asap.
Adoro a tua coluna, meu querido. Bem, não mais do que eu adoro comida árabe… hi hi hi
Abração.
Hahahaha sempre como halim e tinha curiosidade de saber como era esse uzzi, vim procurar no google o que era e acabo por descobrir que uzzi só tem no halim acho que vou ter que experimentar logo essa receita de familia…